19/06/2024 – 19:36
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Odair Cunha, relator da proposta
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (19) um projeto de lei que garante aos trabalhadores da colheita o direito de continuar recebendo benefícios sociais, como o Bolsa Família, durante o período do contrato de colheita. A proposta será enviada ao Senado.
O Projeto de Lei 715/23, do deputado Zé Vitor (PL-MG), foi aprovado em forma de substituto do relator, deputado Odair Cunha (PT-MG).
O relator acrescentou dispositivo determinando que o empregador do trabalhador da colheita registre as informações em campo específico no e-Social, sistema simplificado de registro digital de obrigações tributárias, previdenciárias e trabalhistas. Essas informações deverão estar acessíveis ao órgão gestor do Bolsa Família.
Os contratos de colheita, previstos no Lei 5.889/73são aqueles cuja duração varia conforme a atividade agrícola, compreendendo o período entre o preparo do solo e a colheita.
Odair Cunha destacou que a proposta tem o mérito de incentivar a formalização do trabalho no campo, sem que o trabalhador fique excluído do Bolsa Família no restante do ano. Explicou que, atualmente, os trabalhadores rurais preferem permanecer na informalidade por medo de perder benefícios sociais. “Quem tem direito continuará a ter direito, pois assinará um contrato temporário”, afirmou.
O autor da proposta, deputado Zé Vitor, afirmou que o texto busca garantir a inclusão produtiva dos trabalhadores rurais. “O Bolsa Família não pode ser uma prisão, tem que ser uma ferramenta de transformação”, disse.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Zé Vitor, autor do projeto
Debate em Plenário
O deputado Gilson Daniel (Pode-ES) afirmou que muitos trabalhadores capixabas não querem cadastrar na carteira de trabalho para não perder benefícios sociais. Segundo ele, por isso os empregadores não conseguem assinar os documentos dos trabalhadores rurais. “A Polícia Federal prende produtores rurais por trabalho análogo ao escravo porque não têm registro, mas querem se registrar”, disse.
O deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES) afirmou que os trabalhadores rurais que trabalham na colheita do café no Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo recebem entre R$ 10 mil e R$ 12 mil por mês. “Queremos que quem está em programas sociais tenha um aumento na renda, possa receber um dinheiro extra sem sair dos programas sociais. E que dê uma contribuição importante nas atividades de colheita”, afirmou. Ele relatou o projeto às comissões trabalhistas; e Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural.
Evair Vieira de Melo criticou a atuação dos auditores fiscais do Ministério do Trabalho que, segundo ele, são como uma “nuvem de gafanhotos” na destruição de empregos no campo. “Eles estão visitando nossas propriedades, tratando nossos agricultores como bandidos, pessoas que não têm antecedentes policiais, com vida limpa. O Ministério do Trabalho, para bater a arrecadação de impostos, pega a Polícia Federal e o Ministério Público, estão levando terror para o interior do Brasil.”
Para o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), o projeto ataca um mito que ainda prevalece na sociedade brasileira, com uma moldura de preconceito, de que os programas sociais favoreceriam quem não quer trabalhar. “A pessoa com trabalho sazonal tem aquela remuneração temporária e a sua condição precária, e a da sua família, retornará em breve.”
O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) defendeu a ampliação da proposta para outros trabalhos intermitentes em épocas como Páscoa ou Natal. “São trabalhadores urbanos que vivem a mesma realidade. Esse projeto é tão bom que temos que expandi-lo para todo mundo no Brasil”.
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Reportagem – Eduardo Piovesan e Tiago Miranda
Montagem – Pierre Triboli
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