14/08/2024 – 19:56
• Atualizado em 14/08/2024 – 20h40
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Luiz Gastão, relator, excluiu hospitais universitários do mecanismo
A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei complementar que cria uma conta corrente específica para transferências federais e emendas parlamentares destinadas aos prestadores privados de serviços no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O assunto será enviado ao Senado.
De autoria do deputado Antonio Brito (PSD-BA), o Projeto de Lei Complementar 57/22 altera a lei de aplicações mínimas em saúde pública (Lei Complementar 141/12).
Com a mudança, os prestadores privados desses serviços, incluindo, mas não se limitando, aqueles sem fins lucrativos, como as Santas Casas, poderão receber diretamente recursos de transferências regulares, automáticas e obrigatórias (“alterações Pix”) sem a necessidade primeiro passar pela prefeitura local ou pelo governo estadual.
O texto aprovado contou com alteração do relator da Comissão de Finanças e Tributação (CFT), deputado Luiz Gastão (PSD-CE), que exclui os hospitais universitários federais do mecanismo.
Segundo ele, a atual lei de diretrizes orçamentárias (LDO 2024) prevê o repasse de recursos diretamente às unidades orçamentárias desses hospitais; e uma portaria do Ministério da Saúde de 2017 determina que o dinheiro enviado diretamente aos hospitais universitários federais não deve passar pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS).
Luiz Gastão afirmou que a proposta deve melhorar a transparência e a eficiência através da criação de contas específicas para receber regularmente transferências automáticas obrigatórias destinadas a cobrir ações e serviços de saúde para prestadores de serviços privados, incluindo Santas Casas.
“Nenhum outro grupo de entidades assistenciais pode ser considerado tão importante para a descentralização das ações e serviços públicos de saúde, que são atribuição do Estado brasileiro”, destacou.
Luiz Gastão destacou que existem quase 3 mil estabelecimentos filantrópicos de saúde que prestam serviços ao Sistema Único de Saúde, sendo responsáveis por quase 42% das internações de média e alta complexidade. “Em 911 municípios, o atendimento hospitalar é prestado exclusivamente por essas unidades”.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Hildo Rocha: a conta agiliza e facilita a execução desses recursos
Pescoço
O deputado Hildo Rocha (MDB-MA) afirmou que a proposta resolve o gargalo no repasse de recursos para entidades filantrópicas. “A conta específica agiliza e facilita a execução desses recursos. Algumas administrações dificultam o repasse desses recursos, o que prejudica o funcionamento dessas entidades e a população que recebe esse serviço fica prejudicada”, lamentou.
O deputado Charles Fernandes (PSD-BA) também espera que a conta específica facilite a administração de recursos das Santas Casas. “Quantas vezes vemos a Santa Casa passar por dificuldades financeiras porque o prefeito não transfere o dinheiro”, comentou.
O deputado Benes Leocádio (União-RN) sugeriu que os gestores sejam punidos quando não repassarem recursos para hospitais e Santas Casas. “Não podemos aceitar a arrogância de certos gestores”, declarou.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Jandira Feghali: proposta é muito abrangente e tira autonomia do gestor
Autonomia
Alguns deputados acusaram a proposta de prejudicar a autonomia das prefeituras e dos estados na gestão dos recursos de saúde. O deputado Jorge Solla (PT-BA) defendeu que o projeto limitava o repasse para uma conta específica apenas aos recursos provenientes de emendas parlamentares.
“O texto acabou envolvendo todo e qualquer recurso transferido do Fundo Nacional de Saúde para estados e municípios. Isso quebra completamente a autonomia dos gestores municipais e dos gestores estaduais”, considerou. “Não cabe ao governo federal dizer quanto vai repassar para a Santa Casa de Porto Alegre. A contratação é feita no território onde ocorre a gestão e há muitos anos o Ministério da Saúde não tem mais contrato direto com um hospital.”
O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) alertou para o risco de inibir gestores estaduais e municipais de direcionarem recursos para entidades privadas. “Essas entidades ganham com este projeto um espaço privilegiado frente aos recursos próprios segregados em contas correntes. Sabemos que a política de negociação predomina no Brasil e pode ser reforçada”, afirmou. “A Secretaria de Planejamento e Orçamento é contrária ao texto na sua forma atual e recomenda consultas ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ao Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems)”, acrescentou.
Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a regra é muito abrangente. “O que estamos questionando aqui é se existe uma conta separada para o Fundo Nacional de Saúde, até porque não é só filantropia, existe filantropia e todo o setor privado, tirando completamente a autonomia do gestor”, afirmou.
Reportagem – Eduardo Piovesan e Francisco Brandão
Edição – Georgia Moraes
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