Falta pouco mais de uma semana para o encontro de líderes democráticos organizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Nova York, marcado para 24 de setembro, à margem da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. O evento, intitulado Em defesa da democracia, combatendo o extremismo, reunirá chefes de estado e de governo de nações progressistas para proteger as instituições democráticas — tendo a extrema direita como principal alvo. Há um porém: um dos temas previstos para discussão é a garantia de eleições livres no mundo, e Lula enfrenta críticas pela postura branda do Brasil em relação às eleições na Venezuela.
Lula se mobilizou para reunir aliados em resposta à articulação internacional de líderes extremistas, como o contato entre o presidente da Argentina, Javier Miei, o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que volta a concorrer o cargo, além do avanço dos partidos de extrema direita nas eleições europeias.
O encontro está sendo organizado por Brasil e Espanha, representados pelo presidente, Pedro Sanchéz. A ideia começou até a ganhar corpo em uma conversa entre os dois, no Palácio do Planalto, em março.
“Espanha e Brasil são duas grandes democracias que enfrentam o extremismo, a negação da política e o discurso de ódio alimentado por notícias falsas. A nossa experiência no confronto com a extrema direita, que opera de forma coordenada a nível internacional, ensina-nos que é necessário unir todos os democratas do mundo”, declarou Lula após o encontro com Sánchez.
Ao Correio, o Itamaraty informou que “o evento terá como objetivo discutir formas de promover os princípios democráticos e proteger as instituições de movimentos extremistas, a fim de garantir eleições livres, o Estado de Direito e as liberdades individuais, garantindo ao mesmo tempo um crescimento econômico sustentável e inclusivo. os temas a serem discutidos no evento são a disseminação de práticas de desinformação e a desestabilização de governos e democracias, bem como o papel das redes sociais neste contexto”, explicou o ministério.
Sem confirmações
Até o momento, o governo brasileiro não divulgou a programação nem detalhes sobre o formato do evento, nem confirmou quais lideranças estarão presentes. Segundo declarações divulgadas pelo Planalto, o presidente Lula convidou pessoalmente pelo menos cinco líderes: os presidentes Joe Biden (Estados Unidos), Emmanuel Macron (França) e Gabriel Boric (Chile), e os primeiros-ministros Justin Trudeau (Canadá) e Keir Starmer (Reino) Unido). Além de Pedro Sánchez, que também atua na entidade.
Interlocutores do Itamaraty, porém, afirmam que outros convites estão sendo feitos pela equipe diplomática. Segundo a fonte, a lista de candidatos confirmados costuma ser divulgada “com muito pouca antecedência” em eventos de alto nível.
Um dos desafios é coordenar as agendas dos chefes de Estado. Além da Assembleia Geral, há uma série de eventos paralelos programados em Nova Iorque e organizados pelas Nações Unidas, governos e outras organizações. O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, por exemplo, convidou Lula para participar de um fórum sobre mudanças climáticas organizado pela Fundação Clinton, entre os dias 23 e 24 de setembro. Haverá também reuniões sobre desarmamento nuclear, resistência a antibióticos e elevação do nível do mar.
Tópico espinhoso
Um dos temas previstos para o debate é a garantia de eleições livres. Lula é criticado por sua postura branda em relação às eleições na Venezuela, que enfrenta acusações de fraude e falta de transparência. Apesar de não reconhecer a vitória de Nicolás Maduro, Lula também não apontou a possibilidade de os resultados das urnas terem sido manipulados. Recentemente, o presidente admitiu que o regime chavista é “autoritário”, mas negou que se trate de uma ditadura. Houve um endurecimento no discurso, mas a demora na tomada de medidas concretas causa desgaste.
Maduro suspendeu, por exemplo, a representação do Brasil na embaixada argentina em Caracas, e chegou a cercar o prédio com a ameaça de prender os seis opositores venezuelanos que ali estão abrigados. O chavista só cedeu após uma nota dura da diplomacia brasileira e após o candidato da oposição Edmundo González ter fugido do país.
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Os presidentes Biden e Boric estão entre os maiores críticos de Maduro e dizem estar preocupados com a possibilidade de fraude nas eleições de 28 de julho. Macron chegou a criticar as medidas de Maduro para impedir a candidatura dos principais líderes da oposição – María Corina Machado e Corina Yoris. Mesmo assim, todos os chefes de estado convidados por Lula elogiaram os esforços brasileiros para mediar a relação entre o governo venezuelano e a oposição.
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