Bolsonarização de Nunes contraria parte de campanha do prefeito de São Paul

FOLHAPRESS – Ricardo Nunes (MDB) vinha descrevendo sua campanha, desde o início do período eleitoral, como a união entre o centro e a direita para derrotar a esquerda, representada por Guilherme Boulos (PSOL). Mas, se antes ele se propunha representar o centro nesta equação, a bolsonarização vista nesta semana deixou dúvidas e gerou críticas de aliados que não concordam com o deslocamento à direita.

Integrantes de partidos como MDB, PSD e PSDB lamentaram as declarações de Nunes aos podcasts de Bolsonaro, nos quais ele admitia o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, defendia anistia para os presos no dia 8 de janeiro e dizia se arrepender de ter defendido a vacinação obrigatória e o fechamento de empresas durante a pandemia.

Esses aliados exigem que a campanha divulgue uma nota reafirmando o compromisso de Nunes com a vacinação.

Quem está ao redor de Jair Bolsonaro (PL) afirma que as declarações de Nunes foram um sucesso e estão sendo muito elogiadas. A iniciativa do prefeito de dar entrevistas a influenciadores de direita partiu de interlocutores do ex-presidente que integram a coligação, e não dos emedebistas.

O passo foi justificado, entre os integrantes da campanha, pela ameaça que Pablo Marçal (PRTB) representa neste eleitorado, já que o influenciador é visto pelo público conservador como alguém que representa seus valores, enquanto o prefeito é visto como alguém de esquerda.

Os líderes dos partidos de centro e centro-direita consideram, no entanto, que estas declarações foram desnecessárias numa altura em que Marçal está em queda nas sondagens e a segunda volta está prestes a ser disputada entre Nunes e Boulos.

O argumento é que, entre o prefeito e o deputado do PSOL, os eleitores de direita votariam em Nunes de qualquer maneira, ou seja, essas declarações não acrescentam nada do ponto de vista eleitoral e, pelo contrário, poderiam prejudicar a imagem pessoal do emedebista no futuro.

Por outro lado, integrantes da campanha de Nunes dizem não acreditar que a Bolsonaroização do prefeito faça com que os eleitores fujam do centro e minimizem a possível perda na disputa. Para eles, esse eleitorado não trocará Nunes por nomes considerados radicais, como Boulos, nem escolheria Tabata Amaral (PSB), que não tem votos para ir ao segundo turno.

Vacinas

A defesa da não obrigatoriedade da vacinação foi vista como um erro principalmente entre os dirigentes e causou desconforto entre os servidores municipais da rede de saúde, após a grande dedicação que o combate à pandemia exigiu.

A atuação de Bruno Covas (PSDB) e Nunes naquele momento foi, aliás, uma das vitrines da campanha, com o lema de que São Paulo era a capital da vacina.

Embora o prefeito tenha dito, em entrevistas a podcasts bolsonaristas, que se arrepende e que faria diferente, os profissionais de saúde reiteram que o isolamento e a imunização foram os métodos corretos e que evitaram mortes na pandemia.

Nunes também negou ter demitido funcionários da prefeitura que não foram vacinados, mas pelo menos cinco vereadores foram demitidos por esse motivo.

Numa outra frente, houve aliados de Nunes que minimizaram a situação, até fazendo parte da ala que se posiciona no centro e que não simpatiza com Bolsonaro. Na opinião destes políticos, os discursos do autarca atingirão apenas um público específico e estão no limiar do aceitável.

Para eles, uma eventual Bolsonaroização de Nunes estava cotada a partir do momento em que foi firmada a aliança com o ex-presidente. Afirmam que o apoio de Bolsonaro a Nunes, embora vacilante, foi importante para alavancar o prefeito e esperava-se que houvesse gestos em troca.

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A avaliação é que as entrevistas em podcast pelo menos ajudaram a pagar essa conta e que agora é preciso avançar, priorizando as mobilizações de rua e a tradicional campanha na reta final.