Dado o mau desempenho do PT no eleições municipais 2024, os dirigentes partidários passaram a semana à procura de explicações que pudessem justificar a concretização do número reduzido de prefeituras e a consequente perda de espaço para siglas de centro e direita.
No primeiro turno, o PT garantiu o controle de 248 cidades – número maior do que havia conquistado em 2020, mas que está longe de se aproximar do resultado de 2012, quando garantiu o controle de 635 municípios. Para muitos petistas, o fracasso eleitoral combina fatores como a ausência de novas lideranças e um discurso desvinculado da realidade.
Líder do governo na Câmara, o deputado federal José Guimarães (CE) avalia que o PT precisa se reinventar – principalmente do ponto de vista da organização partidária. Segundo ele, a sigla tem que aprender a atuar nas redes sociais, como já fazem as forças políticas de direita, além de mudar a percepção sobre os problemas que afetam o Brasil.
“Não é razoável que o partido tenha dois ou três prefeitos num Estado. Isto não pode acontecer. Se aconteceu é porque tem alguma coisa errada”, afirmou, citando como exemplo o Pará, onde o partido conquistou apenas 2 prefeituras. “O PT precisa entender como aumentar o seu nível de mobilização através das redes, caso contrário não vai se recuperar”, disse.
Uma das derrotas mais contundentes sofridas pelos petistas ocorreu em Belo Horizonte, onde Rogério Correia terminou em 6º lugar, com apenas 4,3% dos votos. “Hoje, a esquerda não é mais uma posição majoritária no Brasil. É uma minoria. Portanto, o PT depende cada vez mais de alianças com partidos mais ao centro. Aqui em Belo Horizonte essa aliança mais ampla só foi construída agora no segundo turno”, afirmou.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES), que viu o petista derrotado nas eleições de Vitória, destaca que o problema é a falta de diálogo. “O PT tem que conversar com os antagonistas. Essa coisa de só conversar com eles não é suficiente”, afirmou.
Esgotamento da agenda
Para o professor de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Paulo Baía, a falta de renovação está na raiz do fraco desempenho do PT. “Os ciclos dos líderes de esquerda de hoje terminaram, enquanto o ciclo dos líderes de direita está apenas começando, porque eles acabaram de surgir no cenário político”, avaliou.
Outro agravante, na visão do professor, é o fato de a esquerda insistir em defender agendas centradas na ideia de que o Estado é capaz de fornecer o que falta à população –conceito que se esgotou e não cativa mais os eleitores como antes . “Há um esgotamento das ações dos governos de esquerda, que já não respondem ao novo desenho de sociedade, baseado principalmente no empreendedorismo, no individualismo e na meritocracia. A direita percebeu essa mudança e conseguiu dialogar com essas pessoas à luz desse novo desenho social”, explicou.
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