Oficialmente, a corrida presidencial de 2026 entra esta semana no calendário político, na sequência dos resultados das eleições autárquicas. Na prática, porém, já movimenta o governo federal nos bastidores. Citado em todas as apostas como um possível “plano B” do PT caso o presidente Lula não tente a reeleição, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já traçou os obstáculos que precisa enfrentar se quiser se confirmar ele mesmo na corrida.
Oficialmente, ele disse a interlocutores que não pretende concorrer. “Fernando sabe que não será candidato”, diz uma pessoa próxima. Mas, como na política, um “não” sempre pode ser um “talvez”, dependendo do momento, a cautela tem norteado sua atuação como ministro. Ele também já identificou “arestas” que precisaria aparar internamente no partido se quiser garantir seu nome como “plano B”.
Haddad trocou farpas recentemente com a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann. Ela chegou a defender publicamente, há algumas semanas, a candidatura de Haddad ao Senado por São Paulo, na disputa de 2026. Ao seu círculo mais próximo, Haddad tem reconhecido essas “margens para resolver com o partido”, e acredita-se que a discussão sobre sua relação com o PT envolva também a disputa para definir o próximo presidente do partido.
A previsão é que durante a reunião do diretório nacional do partido, em dezembro, seja finalizado o calendário de sucessão interna. Gleisi deverá deixar o cargo no primeiro semestre de 2025. Apontado como favorito, o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva não é unânime. Pessoas próximas a Haddad defendem um nome que seja capaz de “ventilar” mais a festa, que poderia vir do Nordeste, sendo José Guimarães, do Ceará, que também é citado. O parlamentar é irmão de José Genoino, ex-presidente do partido.
Enquanto isso, a recomendação tem sido para que Haddad seja muito cauteloso em sua exposição ao Ministério da Fazenda. Ele, melhor do que ninguém, conhece o potencial que uma declaração como ministro tem de gerar ruído,
afectar o desempenho da economia e, consequentemente, quaisquer intenções políticas.
Haddad foi alertado por quem o rodeia de que nem mesmo bons números econômicos são capazes de superar o impacto de uma sentença mal interpretada. Portanto, a avaliação é que a sua comunicação deve ser simples, direta e pontual. Sem comportamento de estrela pop nas redes sociais, por exemplo. O ministro também foi aconselhado a evitar participar de eventos públicos. Algo que não ajuda em nada um pré-candidato e que divide opiniões na sua equipe, no partido e já foi até motivo de puxões nas orelhas do presidente Lula.
Há cerca de um mês, durante evento no Palácio do Planalto, Lula cobrou mais entusiasmo do ministro da Fazenda em seus discursos sobre economia. Na cerimônia de assinatura de acordo de incentivo às exportações de pequenas empresas, o presidente da República disse que “até Alckmin demonstrou mais entusiasmo” do que Haddad, em referência ao vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, também presente e conhecido por seu jeito de falar mais calmo e menos expressivo.
Em abril, Lula havia dito que Haddad deveria fazer mais para defender o governo, inclusive nas conversas com o Congresso. Dois meses depois, o presidente se comprometeu e disse que Haddad jamais seria “enfraquecido” em seu governo.
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