22/08/2024 – 19:19
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Deputados e especialistas debateram políticas oceânicas na Câmara
Ambientalistas defenderam o fortalecimento das políticas oceânicas em âmbito nacional e internacional durante seminário com representantes de 35 países na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (22). O evento foi promovido pela Frente Parlamentar Ambientalista em busca da interação entre ciência, política e sociedade civil com foco na sustentabilidade ambiental dos oceanos e zonas costeiras.
As sugestões serão apresentadas ao Grupo G20 Oceanos, presidido pelo Brasil até novembro, para influenciar futuras decisões das maiores economias do mundo, conforme destacou o coordenador da frente, deputado Nilto Tatto (PT-SP).
“Celebramos o reconhecimento tanto pela comunidade brasileira quanto pela comunidade internacional do papel da biodiversidade florestal, especialmente o papel da Amazônia. Mas, temos pouco daquilo que talvez tenha o papel mais importante no enfrentamento da crise climática, que é o cuidado diante da degradação que vem acontecendo com os mares”, afirmou Nilto Tatto.
Em nível nacional, a secretária executiva do Painel Brasileiro para o Futuro do Oceano (PainelMar), Letícia Camargo, pediu prioridade na aprovação da proposta (PL 6969/13) que cria a Política Nacional de Gestão Integrada, Conservação e Uso Sustentável do Sistema Costeiro-Marinho.
“O principal é o (projeto) que fazemos campanha há 11 anos para aprovar, conhecido como Direito do Mar. Acreditamos, com muito otimismo, que este será o ano em que conseguiremos convencer o presidente aqui da Câmara a discutir e aprovarmos essa proposta”, disse Letícia Camargo.
A proposta do “Direito do Mar” está pronta para votação no Plenário da Câmara. O texto defendido pelos ambientalistas é a última versão elaborada pelo deputado Túlio Gadêlha (Rede-PE), já sob os efeitos da crise climática.
“Isso envolve discutir uma legislação mais responsável em relação ao uso sustentável de todo o ecossistema marinho. Não podemos deixar que a temperatura global atinja 1,5 graus Celsius. E esta é a última oportunidade que a humanidade tem para evitar que isto aconteça. Caso contrário, os prejuízos serão ainda maiores, principalmente para os mais pobres”, afirmou Gadêlha.
Professora da Universidade Federal de Pernambuco, a bióloga Beatrice Padovani apresentou os resultados do I Diagnóstico Marinho-Costeiro Brasileiro sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos para afirmar que, apesar de ser reconhecido como um país continental, “o Brasil é uma nação marítima”.
“A Amazônia Azul, que é a Zona Econômica Exclusiva Brasileira, constitui dois terços da área continental, tem 10 mil quilômetros de zona costeira e 443 municípios litorâneos. O oceano contribui para a regulação climática, energia, segurança alimentar, segurança hídrica, saúde e continuidade cultural de um país multidiverso”, observou Beatrice Padovani.
Divulgação/USFWS Pacífico
O aquecimento global está matando os corais
Morte coral
A rica biodiversidade marinha está ameaçada pelo aquecimento global, com sucessivos máximos recordes nas temperaturas dos oceanos e episódios de branqueamento ou morte de corais, essenciais para o equilíbrio do ecossistema.
Durante o seminário na Câmara, representantes da União Europeia e da África do Sul apresentaram diferentes modelos de governação marinha. A Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, prevista para 2025 (organizada pela França e Costa Rica), deverá avançar na criação de um painel internacional sobre a sustentabilidade dos oceanos, com foco na colaboração entre os países.
O PanelMar listou os principais projetos sob a atenção de ambientalistas na Câmara e no Senado. Além da proposta (PL 6969/13) de Direito do Mar, defende-se uma norma para a economia circular do plástico, também conhecida como “Oceano sem Plástico” (PL 2524/22), que tramita no Senado; reconhecimento dos territórios das comunidades pesqueiras tradicionais (PL 131/20); e garantia do acesso e utilização pública das praias e do mar (PL 775/22), que também tramita no Senado Federal.
Por outro lado, os ambientalistas querem que as seguintes propostas sejam rejeitadas:
- PEC 3/22 (Senado) ou PEC 39/11 (Câmara), que retira à União a titularidade exclusiva das terras da Marinha, conhecida como “privatização das praias”;
- PL 11.247/18 (ou PL 5.932/23), que autoriza a implantação de parques eólicos em alto mar;
- PLP 254/23, que atribui à Marinha o licenciamento ambiental de projetos náuticos;
- PL 5822/19, que possibilita o licenciamento ambiental para mineração em reservas extrativistas e parques nacionais (inclusive reservas marinhas);
- PL 4444/21, que cria o Programa Nacional de Gestão Eficiente do Patrimônio Imobiliário Federal (e permitiria a privatização de 10% das praias para uso turístico); e
- PL 2511/24que criminaliza a ocupação ou invasão de praias, que tramita no Senado.
Documentário
O evento da Frente Parlamentar Ambientalista também marcou o lançamento do “Monitor Oceano”, plataforma do Instituto Arayara para monitorar a costa brasileira, alertar sobre os perigos da exploração de petróleo em alto mar e contribuir para o ordenamento do espaço marinho. Vencedor do Oscar de melhor documentário em 2021, o cineasta sul-africano Craig Foster também discursou no seminário e lançou um novo curta (“Mãe na sala de reuniões”) em defesa da sustentabilidade ambiental dos oceanos.
Relatório – José Carlos Oliveira
Montagem – Roberto Seabra
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