FOLHAPRESS – Aliados do presidente Lula (PT) temem que o ataque a Donald Trump, no sábado (13), reforce o discurso de que há perseguição à direita no mundo e fortaleça o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), agredido com facada ferida na campanha presidencial de 2018.
Autoridades do governo também avaliam que o caso tende a aumentar a pressão contra o democrata Joe Biden e a aproximar o candidato republicano da vitória nas eleições dos Estados Unidos.
Lula já declarou abertamente que apoia a vitória de Biden, tendo dito em junho que, se o seu adversário vencer, “não temos ideia do que ele fará”.
A comparação entre os ataques a Trump e Bolsonaro foi feita pelo ex-presidente brasileiro e replicada nas redes sociais por diversos aliados – como seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). ).
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foi uma das que postou fotos do marido esfaqueado em 2018 e do americano com sangue no rosto.
“Os ataques são contra pessoas de bem e conservadores”, disse Bolsonaro neste domingo (14/7), ignorando outros episódios de violência política, como os tiros que atingiram dois ônibus da caravana de Lula, em 2018.
No sábado, logo após o crime, o ex-presidente brasileiro chamou Trump de “maior líder mundial” e escreveu: “Nos vemos na posse”.
Porém, seu passaporte foi apreendido por ordem do STF (Supremo Tribunal Federal).
O ataque ao americano, uma espécie de ídolo político seu, ocorre no momento em que Bolsonaro sofre reveses no Judiciário – ele foi indiciado na investigação que trata de joias recebidas pelo governo brasileiro e viu aliados serem alvo de ataques uma operação da PF na semana passada, sobre espionagem clandestina na Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Apesar do paralelo traçado pelos apoiantes de Bolsonaro com o ataque de 2018, um aliado de Lula lembra que Bolsonaro foi hospitalizado após o esfaqueamento e faltou aos debates presidenciais – ao contrário de Trump, que já recebeu alta.
Afirma que ainda é difícil mensurar o impacto do episódio na campanha americana e lembra que a esquerda e o centro conseguiram unir-se e derrotar a ultradireita nas eleições legislativas francesas, ao contrário do que previam os analistas.
No Brasil, políticos de diferentes cores partidárias, porém, descartam que o ataque contra Trump possa influenciar diretamente as eleições municipais de outubro.
O senador Humberto Costa (PT-PE), coordenador do grupo de trabalho eleitoral do PT, afirma que o episódio não deve alterar a participação do presidente Lula na campanha deste ano, apesar das maiores preocupações com a segurança.
O petista afirma que Lula estará presente na convenção eleitoral que formalizará a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo, no próximo sábado (20).
“Na verdade, acho que haverá ainda mais cuidado [com a segurança]. Mas não creio que ele mude de ideia sobre participar da campanha. Na verdade, ele já vai à convenção de Boulos”, afirma Costa.
O presidente do PP e ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, senador Ciro Nogueira (PI), também descarta qualquer efeito nas eleições de outubro. “Não creio que isso tenha impacto [no pleito brasileiro]vamos ter uma vitória histórica”, afirma.
Para o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o ataque de sábado terá influência nos Estados Unidos por causa da “maior revolta eleitoral” por lá.
O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), desejou neste domingo rápida recuperação ao candidato republicano e afirmou que outras tragédias acontecerão se não houver a busca pela “coexistência pacífica e democrática”.
Atos extremistas e violentos repetem-se em todo o mundo, não apenas na esfera política, sendo necessária uma reflexão urgente sobre este estado permanente de ódio. Ou ampliamos a busca pela convivência pacífica e democrática, ou veremos outras tragédias acontecerem”.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nas redes sociais que a Câmara repudia veementemente qualquer ato de violência, como o sofrido por Trump: “As divergências são resolvidas pelo voto da maioria e pela vontade das pessoas”.
Assim como o presidente Lula, membros do governo também repudiaram publicamente o ataque contra Trump.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), afirmou que toda violência política mancha a democracia e deve ser duramente condenada.
“Minha solidariedade ao ex-presidente Trump. Que triste, mais esse episódio de violência contra um candidato durante sua campanha”, declarou o ministro, candidato à Presidência da República nas últimas eleições.
Na mesma linha, o líder do governo Lula no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), afirmou que a violência contra Trump deve ser repudiada por todos os democratas do mundo.
“A política é e sempre será o espaço do diálogo e da democracia. A violência em qualquer lugar contra qualquer pessoa deve ser sempre combatida”, declarou nas redes sociais.
Os aliados de Bolsonaro, por sua vez, tentam usar o ataque a tiros contra Trump para reforçar a tese de perseguição aos líderes conservadores e relembrar a facada sofrida pelo ex-presidente.
O discurso é semelhante ao que usam para comentar as investigações contra Bolsonaro, o que seria uma ação de elites políticas e jurídicas que não aceitam as mudanças que ele teria implementado no país.
“A história se repete. Se não conseguem vencer, tentam matar. Trump vai voltar”, escreveu nas redes sociais Jair Renan, um dos filhos do ex-presidente Bolsonaro, ao publicar uma montagem com uma foto do pai e de Trump.
Entender: como o ataque contra Trump pode ser usado na campanha eleitoral dos EUA
O senador Flávio postou: “Líderes de direita são vítimas de ataques às suas vidas, por motivos políticos. Além do discurso de ódio, a esquerda pratica o ódio. Fato! Assim como @jairbolsonaro no Brasil, eles tentam matar @realDonaldTrump porque ele é já eleitos! Se Deus quiser, ambos ainda colaborarão muito com seus países!”
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