Alcolumbre: um Davi sem Golias na disputa pelo Senado

Considerado o rei das emendas no Senado, Davi Alcolumbre é um nome com quase consenso na disputa pela presidência da casa, em fevereiro de 2025. A menos que ocorra uma grande reviravolta política, o senador deverá retornar ao cargo que ocupou entre 2019 e 2021.

Alcolumbre, do Amapá, já conta com o apoio oficial de cinco partidos. Além da sigla própria, estão na lista União Brasil, PP, PSB, PDT, PL, PT, Republicanos e PSD. O PT não anunciou oficialmente sua filiação, mas o líder do partido no Senado, Beto Faro (PA), já anunciou que essa é a tendência do partido.

No total, com o apoio virtual do MDB, que também deverá aderir à coligação pró-Alcolumbre, ele já conta com os votos de 72 senadores – são necessários apenas 44 para vencer no primeiro turno.

O presidente Lula disse que não tem candidato, mas nos bastidores trabalha para encontrar um nome “consensual”. Alcolumbre, que no governo passado teve ótima relação com Jair Bolsonaro, foi rápido na transição e hoje é visto como um fiel aliado do Planalto de Lula.

Dado o seu amplo favoritismo, Alcolumbre já começou a definir como serão distribuídos os postos de comando restantes no Senado nos próximos dois anos. A primeira vice-presidência deverá ficar com o PL, a segunda vice-presidência com o PT e a Comissão de Constituição e Justiça, uma das mais importantes da casa, com o PSD.

Sem rivais

Candidaturas alternativas para Alcolumbre não tiveram sucesso. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) lançou-se como candidata, apresentando-se como opção feminina na disputa, mas não conseguiu apoio nem mesmo do seu próprio partido. Falou-se também em uma possível candidatura de Otto Alencar (PSD-BA), que foi vista com simpatia pelo Palácio do Planalto, mas a ideia também não foi adiante.

O trunfo de Alcolumbre ao retornar ao comando do Senado é sua atuação como um dos coordenadores da distribuição de emendas. Muitos colegas de diferentes partidos, de direita, de centro e de esquerda, lhe devem favores.

Seu estado, o Amapá, é um dos líderes no ranking de emendas. Prefeitos aliados do senador no estado receberam R$ 264 milhões, somente entre 2021 e 2022.

Há um fator que pode atrapalhar os planos do senador e tem a ver justamente com o domínio de Alcolumbre na distribuição de emendas, atualmente bloqueadas por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Assim como na eleição para a presidência da Câmara, há uma avaliação entre os senadores de que possíveis reclamações ou polêmicas na mídia sobre o uso indevido de recursos de emendas poderiam causar desgaste e, assim, fragilizar Alcolumbre na disputa. Isso criaria constrangimento para muitos apoiadores. Por enquanto, porém, esse é um risco considerado baixo, até porque o problema já está exposto e não foi suficiente para barrar a candidatura.

“Andorinha” Alcolumbre

Um senador petista que conversou com o PlatôBR sobre a disputa – e pediu anonimato – disse que não houve unanimidade na bancada do partido em torno de Alcolumbre, mas concluiu que “a inércia prevaleceria” neste caso, com a eleição do senador pelo Amapá “praticamente concluído”.

Para este mesmo senador, a maioria dos apoiadores do governo teve que “engolir Alcolumbre”. Embora seja da base de Lula, o preço que o governo terá que pagar “será alto”, segundo o mesmo senador. É uma referência clara aos cargos e recursos que o governo terá de abrir mão para manter boas relações. Hoje, Alcolumbre já é padrinho de ministros como Juscelino Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Integração Nacional) —este último, ex-governador de seu estado natal.

Para ele, Alcolumbre acumula hoje muito poder porque foi “terceirizado” em suas ações pelo presidente da Câmara, Rodrigo Pacheco, que lhe dá apoio. Segundo o parlamentar petista, Alcomlubre buscou apoio da direita, pois duvidava que grande parte dos senadores de centro e de esquerda lhe dessem voto.

Oligarquia do Norte

Davi Alcolumbre tem uma resposta na ponta da língua quando questionado sobre as relações político-empresariais de sua família no Amapá: ele diz que só responde pelo CPF. Um tio dele, Pierre, já disse que Alcolumbre é um grupo familiar e não empresarial, com negócios anteriores ao nascimento do político.

A ideia é se diferenciar de outras oligarquias regionais. Na prática, não é bem assim. O irmão de Alcolumbre, Josiel, é seu primeiro substituto. Ele preside o Conselho do Sebrae do Amapá e é sócio da TV Amazônia, que retransmite Bandeirantes no estado. Josiel tem duas derrotas recentes nas eleições municipais da capital Macapá: não conseguiu ser eleito prefeito em 2020, nem vereador em 2024. Na segunda disputa, foi alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal por suspeita de compra de votos.

A família materna do senador também controla outras emissoras de rádio e TV do Amapá. José Alcolumbre Organizações é proprietária da TV Macapá, retransmissora do SBT. O tio que dá nome ao grupo foi preso em 2006, pela Operação Alecto, da Polícia Federal, que investigava corrupção, tráfico de influência e crimes contra a Fazenda Nacional.

Nas eleições de 2014, quando Davi foi eleito senador pela primeira vez, ele e seu primo Salomão Júnior estiveram em lados opostos. O primo era suplente na chapa de Gilvam Borges, do PMDB, então aliado do ex-presidente José Sarney. O pai de Júnior foi deputado de Sarney por dois mandatos.

Acompanhe nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

Apesar de estarem em lados opostos nas eleições daquele ano, não houve rivalidade entre os primos. Davi era deputado federal e foi citado em reportagem do jornal O Estado de São Paulo por ter gasto grande parte do orçamento de combustíveis do Congresso Nacional no posto do primo.

Não foi a última vez que denúncias de irregularidades na carreira do senador envolveram parentes. A Justiça Eleitoral investiga se ele utilizou, na campanha de 2022, quando foi reeleito, aeronaves de uma empresa beneficiada por suas emendas parlamentares. Um dos documentos anexados à denúncia aponta o pouso da aeronave no Hangar Comandante Salomão Alcolumbre, aeródromo privado localizado nas terras de Isaac Alcolumbre, outro primo do parlamentar.

Ironicamente, o aeroporto público da cidade leva o nome de outro tio de Davi, Alberto Alcolumbre. O nome foi proposto pelo senador, que era deputado na época da apresentação do projeto.