“A UNE não pode ser governista”, diz seu ex-presidente Aldo Rebelo

Reportagem publicada na edição impressa de VEJA desta semana mostra como a União Nacional dos Estudantes (UNE) se tornou parceira do governo petista. Durante os dois primeiros governos Lula, a entidade recebeu 13 milhões de reais em acordos firmados com diversos órgãos públicos, além de indenização de 44 milhões de reais para recuperar sua sede, que pegou fogo durante a ditadura. Nos últimos meses, durante Lulas 3, foram mais de 4 milhões.

Ao mesmo tempo que recebe grandes quantias dos cofres públicos para organizar festivais e exposições universitárias, a entidade tem se dedicado a aumentar, por exemplo, atos contra a política de juros e pela saída do presidente do Banco Central —claramente agendas pró-governo.

O ex-presidente da UNE, Aldo Rebelo, vê esta parceria com preocupação. “Quando eu era presidente da UNE, o PT era minha oposição e mantivemos uma oposição firme ao governo militar”, diz Rebelo. E sublinha: “A UNE não pode ser pró-governo, a UNE deve ser independente”.

Ex-ministro do governo Dilma, Rebelo destaca que essa abordagem desqualifica a luta dos estudantes. “Quando a UNE se alia a qualquer governo, perde a legitimidade para criticar os erros desse governo, inclusive o atual”, afirma.

Aldo lembra dos momentos em que liderou a luta dos jovens. “O movimento estudantil da minha época estava interessado em mudar o mundo e mudar o Brasil, nossa agenda era guiada pela esperança de um nacionalismo que combinasse liberdade e direitos sociais”, afirma.

“O que vejo hoje é a substituição dessa utopia do romantismo por uma agenda que substitui a ideologia pela biologia, e o interesse coletivo na busca de diferenças biológicas baseadas em gênero e raça”, destaca.

Presidente da UNE responde às críticas

A presidente da UNE, Manuella Mirela, refuta as críticas. Segundo ela, não há aliança ou parceria entre o governo petista e a entidade. “A UNE está alinhada à defesa dos estudantes brasileiros e da democracia, bandeiras históricas da entidade. No último período, lideramos a construção de uma ampla frente institucional para a derrota do projeto de extrema direita de Bolsonaro, que destruiu a educação durante os 4 anos de governo”, destacou.

Sobre os protestos, ela explica que são em defesa dos interesses da população. “A independência do Banco Central é ruim, pois prioriza o mercado e os lucros dos banqueiros em detrimento dos desafios de desenvolvimento do Brasil”, disse o líder estudantil, que foi nomeado na última quarta-feira, 26, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável, órgão consultivo do Presidente da República.