O tenente-coronel Mauro Cid afirmou durante depoimento prestado ao Polícia Federal em novembro que o ex-ministro Valter Braga Netto e os seus “intermediários” tentaram obter detalhes sobre o seu acordo de confissão, que foi mantido confidencial.
Segundo Cid, o ataque começou logo depois que ele fechou o negócio e foi solto. Os contatos ocorreram principalmente por meio de ligações para o pai do ex-ajudante de campo de Jair Bolsonaro, General Mauro Lourena Cid.
“Fiz contato com meu pai, eles tentaram ver o que eu tinha, se eu realmente tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era funcionário, e tentando entender o que eu tinha falado. Tanto que meu pai na resposta dele, que é a terceira, disse que não, Cid disse que não”, disse Cid aos investigadores.
A informação foi omitida nas primeiras declarações de Cid à PF, quando, em setembro do ano passado, assinou acordo de delação premiada. No mês passado foi-lhe pedido que desse mais detalhes sobre o que sabia, sob o risco de ter a sua colaboração anulada.
Braga Netto foi preso neste sábado14, por ser “dificultando a produção de provas durante o processo”. O coronel da reserva Flávio Peregrinoum dos assessores mais próximos de Braga Netto, foi alvo de buscas. A PF encontrou na mesa de Peregrino, durante operação lançada em fevereiro, um documento com perguntas e respostas sobre a acusação de Cid. O material afirma, por exemplo, que o tenente-coronel nada relatou sobre os generais Augusto Heleno e Braga Netto.
No pedido de prisão, a PF destacou que Braga Netto atuou com “o objetivo de controlar as informações prestadas, alterando a realidade dos fatos apurados, além de consolidar o alinhamento de versões entre os investigados”.
Pai de Cid confirmou contatos de Braga Netto
Em depoimento complementar prestado à PF no dia 6 de dezembro, o pai de Mauro Cid disse que Braga Netto “entrou em contato no período em que o acordo estava sendo feito, logo após a libertação do filho”. O general Lourena, porém, disse não lembrar se os assuntos discutidos tinham relação com o acordo de delação premiada.
Um exame realizado no celular do pai de Cid demonstrou uma “intensa troca” de mensagens com Braga Netto no dia 8 de agosto de 2023, três dias após o lançamento de uma operação que investigava a venda ilegal de joias recebidas por Bolsonaro. Todas as mensagens foram excluídas. Na véspera, Braga Netto ligou e conversou por mensagens com o pai de Cid.
General também relatou ataques
A PF também encontrou mensagens do general Mário Fernandesoutro indiciado e preso na investigação da tentativa de golpe, relatando que os pais de Cid haviam ligado para Braga Netto e o general Augusto Heleno para dizer que “é tudo mentira” sobre a suposta denúncia do ex-ajudante de campo.
A mensagem foi enviada pelo general Mário a um coronel no dia 12 de setembro, três dias depois de Cid assinar o acordo de colaboração. Para a PF, Braga Netto tentou obter as informações da denúncia “como forma de tranquilizar os demais integrantes da organização criminosa de que os fatos a eles relativos não estavam sendo repassados à investigação”.
O próprio general Mário Fernandes, por exemplo, não foi inicialmente citado por Cid. Durante as investigações, a PF encontrou um plano criado por ele para dar um golpe, matar autoridades e montar um escritório de crise.
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