A direita se move: Caso das joias muda o senso de urgência sobre alternativa a Bolsonaro

Procura-se um substituto para Jair Bolsonaro. O principal requisito é que ele tenha a capacidade de unir as forças da direita. Embora evidente, o tema foi banido e o debate proibido no encontro de fim de semana que apoiadores de Bolsonaro promoveram em Camboriú, Santa Catarina.

“Temos que ter paciência nas atribulações”, sugeriu o governador paulista Tarcísio de Freitas, eleito pelos republicanos. Ele parece relutante, mas é visto como o herdeiro mais provável.

Fora dos estreitos limites da bolha bolsonarista, Tarcísio tem sido descrito como o político que, talvez, melhor se encaixaria na liderança da coligação de direita para a disputa presidencial de 2026. Mas há outros na lista.

Um deles é Ronaldo Caiado, governador de Goiás, fundador do movimento ruralista e candidato derrotado à presidência nas eleições de 1989 —ano em que Bolsonaro estreou na política como vereador no Rio. Caiado já está em campanha.

O problema dos bolsonaristas é o tempo. No domingo (7/7) a questão eleitoral de 2026 parecia estar a uma eternidade política de distância, algo em torno de 27 meses. Nas 24 horas seguintes, essa noção de tempo mudou com a polícia enquadrando Bolsonaro em três crimes (peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro) no caso de joias árabes.

Era previsível e ficou na conta de curto prazo do dono do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, que abriga Bolsonaro. Acontece que os relógios da política e da justiça funcionam de forma diferente e, para o político acusado e seus aliados, cada dia é uma agonia —Costa Neto teve esta experiência no caso Mensalão, quando foi condenado à prisão.

Recebido o inquérito, o Supremo deu quinze dias à Procuradoria-Geral da República para decidir o que fazer com o caso, se arquiva ou denuncia Bolsonaro. De acordo com o procedimento judicial, esta decisão pode ser adiada e acabar saindo para um dia anterior ou posterior às eleições autárquicas.

Para os bolsonaristas, significa ver o chefe exposto e “sangrando” em praça pública. Ele é o principal militante do PL nesta temporada, mas onde quer que vá sempre haverá o risco de um adversário se referir aos detalhes condensados ​​pela polícia em duas mil páginas sobre transações obscuras.

Uma delas é a apropriação de joias árabes, de propriedade pública, para lucro pessoal por meio da lavagem do dinheiro obtido com a venda (1,2 milhão de dólares, ou 6,3 milhões de reais). Outra é a suspeita de usar esse dinheiro para desviar bens públicos para custear uma viagem de três meses da família à Flórida (EUA).

Para um político, ser acusado de corrupção com joias no palco é muito diferente de ser acusado de conspiração contra o regime democrático —outro processo judicial em que ele é protagonista. O efeito tende a ser politicamente radioativo numa disputa eleitoral.

Portanto, mudou a noção de tempo na busca por um substituto para Jair Bolsonaro. A investigação policial deu, na segunda-feira, um sentido de urgência que só existia no domingo. Líderes de partidos aliados ao antigo governo começaram a semana com a certeza de que precisam acertar rapidamente o relógio de direita e centro-direita, para que os ponteiros se juntem indicando um possível candidato presidencial até novembro, quando já acontecerão as eleições municipais. estar no passado.