Crianças na Ucrânia estão condenadas a uma vida subterrânea, diz Unicef

O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se esta quarta-feira para discutir as consequências da guerra na Ucrânia na vida das crianças, bem como nas suas famílias e comunidades.

Em declarações aos 15 países membros do organismo, o diretor executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, sublinhou que a guerra obrigou os menores a uma “vida clandestina, devido ao risco contínuo de ataques”.

Abrigos escuros e escolas improvisadas no metrô

Catherine Russell revelou que as crianças passam até seis horas todos os dias “abrigadas em porões e outros espaços úmidos e escuros, ouvindo as sirenes de ataque aéreo e temendo por suas vidas”.

Segundo ela, em cidades como Kharkiv, salas de aula e playgrounds foram substituídos por espaços subterrâneos e escolas feitas a partir de tendas improvisadas, algumas delas em estações de metrô.

O chefe da Unicef ​​alertou que, com o início do inverno, as crianças ficam expostas a temperaturas congelantes. Este risco é agravado pelos ataques às infraestruturas energéticas, que se multiplicaram nos últimos meses, reduzindo a capacidade energética do país para metade do que é necessário durante os meses frios.

Algumas partes da Ucrânia sofrem cortes de energia que duram 18 horas por dia. Como resultado, muitas crianças ficam sem acesso a aquecimento, água potável e saneamento.

Infância roubada

Russell também alertou que a guerra tem um “impacto terrível” na saúde mental das crianças e faz com que “sua infância seja roubada”. Os menores sofrem com a ameaça constante de ataques ou violência, perda de entes queridos, separação das famílias devido ao deslocamento e perturbações na educação.

Ela enfatizou que as consequências de tal trauma podem ser “devastadoras e ter um impacto duradouro na vida das crianças”. A Unicef ​​​​reuniu dados que mostram que um terço dos pais relata sinais de sofrimento mental nos filhos.

A agência prestou serviços de saúde mental e apoio psicossocial a mais de 630 mil crianças, adolescentes e cuidadores. Além disso, apoiou o acesso de mais de 450 mil menores à educação.

Nos últimos mil dias, quase 1.500 instituições de ensino e mais de 660 instalações de saúde foram danificadas ou destruídas na Ucrânia.

Apelo ao reagrupamento familiar

O diretor executivo disse que a agência continua profundamente preocupada com o número de crianças que foram separadas de suas famílias.

Ela apelou a ambas as partes no conflito para que priorizem a localização e a reunificação da família e se abstenham de quaisquer medidas que possam mudar a nacionalidade de uma criança ou tornar essa reunificação mais difícil.

Para Russell, “os esforços humanitários, embora vitais, não podem substituir uma solução política para acabar com a guerra e o sofrimento”.

Ela enfatizou que as crianças dependem da capacidade do Conselho de Segurança para encontrar soluções e que o órgão não deve decepcioná-las.