A relatora especial* da ONU sobre a situação dos direitos humanos na Rússia apelou às autoridades do país para suspenderem o que chama de “severa repressão dos juristas, bem como o risco para a segurança e a vida dos advogados”.
Num comunicado, Mariana Katzarova apelou à libertação imediata de três defensores: Vadim Kobzev, Alexei Liptser e Igor Sergunin cujo cliente era o antigo líder da oposição na Rússia, Alexei Navalny.
Anulação de penas superiores a 5 anos de prisão
Em 16 de fevereiro, a família de Navalny confirmou a sua morte numa prisão na Sibéria. O adversário russo tinha 47 anos. Na semana passada, os seus três advogados foram condenados a penas que podem ir até cinco anos e meio de prisão.
Segundo agências de notícias, os três advogados de Navalny foram detidos em outubro de 2023, acusados de participar numa “organização extremista”.
O relator pediu a anulação das sentenças e disse que a Rússia continua a perseguir profissionais do setor mesmo numa semana em que se comemora o Dia Internacional dos Advogados em Perigo, assinalado esta sexta-feira.
Perseguição política e casos sensíveis
Para Mariana Katzarova, a condenação dos advogados serve como uma mensagem assustadora para todos os profissionais que consideram defender casos politicamente sensíveis. Principalmente aqueles que têm clientes que enfrentam perseguição política.
O relator afirma que o termo “extremismo” não tem base no direito internacional e constitui uma violação dos direitos humanos quando desencadeia responsabilidade criminal.
Outro sinal de alerta, segundo Katzarova, é a falta de informação pública sobre o julgamento dos três advogados de Alexei Navalny.
Quando o veredicto foi anunciado em 17 de janeiro, a audiência estava aberta a apenas 50 pessoas, incluindo membros da imprensa e outros advogados.
Defensores são julgados à revelia e perdem licença
Nessa ocasião, quatro jornalistas foram detidos arbitrariamente e posteriormente libertados.
No ano passado, ela apresentou um relatório ao Conselho de Direitos Humanos sobre os contínuos ataques a juristas na Rússia. (Link para o documento em inglês relatório ).
O relator especial lembra que profissionais foram detidos, julgados e presos além de perderem a licença para exercer a profissão no país.
Katzarova acusa a Rússia de emitir definições e interpretações vagas e imprevisíveis, em muitos casos abusivas, em julgamentos à porta fechada.
Dois outros advogados de Navalny já fugiram da Rússia
Segundo ela, as autoridades do país estão a utilizar a legislação antiterrorista e de segurança nacional para proibir opositores e intimidar os críticos do governo.
Desde a detenção dos três advogados de Alexei Navalny, em 2023, o relator tem apelado à sua libertação e recorda que outros dois defensores do antigo opositor do Presidente russo, Vladimir Putin, tiveram de fugir do país.
Alexandr Fedulov e Olga Mikhailova estão no exterior, mas enfrentam acusações semelhantes na Rússia.
Desde a invasão da Ucrânia pelas forças russas, o número de advogados presos e condenados atingiu o seu nível mais elevado.
*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.
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