Uso de energia solar em Timor-Leste reforça mensagem do Dia Internacional da Energia Limpa

Na aldeia isolada e remota de Rai-mutin, em Timor-Leste, os desafios de acesso a serviços básicos, como água potável e electricidade, são ainda mais intensos com o aumento de fenómenos meteorológicos extremos, como secas e inundações.

Apesar do isolamento, 63 das 87 casas já possuem painéis de energia solar, instalados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD.

“Ninguém deve ficar para trás”

A iniciativa reforça na prática a mensagem central do Dia Internacional da Energia Limpa 2025, celebrado este domingo, que afirma que “ninguém deve ser esquecido”.

Numa mensagem para assinalar a data, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que este ano as energias renováveis ​​deverão tornar-se, pela primeira vez, a maior fonte mundial de produção de eletricidade.

Para ele, o momento é de celebrar esta revolução, mas reconhecendo os desafios que temos pela frente, incluindo a transição justa de uma economia dominada pelos combustíveis fósseis.

Acesso à eletricidade e combate à crise climática

Em Rai-mutin, 264 dos 325 habitantes já beneficiam de painéis solares para iluminar as suas casas. Além de melhorar a qualidade de vida, a solução evita o agravamento da crise climática, à qual Timor-Leste é altamente vulnerável, apesar de ter contribuído pouco para a sua criação.

Ao visitar o local, a ONU News testemunhou como o acesso à energia elétrica está transformando a vida das famílias, principalmente das 50 crianças e adolescentes que frequentam a escola.

O acesso a Rai-mutin é difícil, por longas e tortuosas estradas de terra esburacadas, no meio de uma serra.

A moradora Madalena Soares relata que no período das chuvas o acesso fica bloqueado e a única forma de se manter hidratado é bebendo água da chuva. Ela explica que quando a chuva para, a vazão do rio diminui, o que também dificulta a procura de água potável.

Notícias da ONU/Felipe de Carvalho

Manuel Morais mostra as luzes alimentadas a energia solar na sua casa

As crianças agora podem estudar à noite

O local é árido e as casas são bastante simples, construídas com palha, madeira e cimento, mas no topo de muitas delas é possível ver o brilho dos painéis de energia solar.

Um brilho ainda mais profundo está no olhar das crianças, que se reúnem e correm sorridentes para receber os visitantes enquanto os adultos preparam comidas típicas da região, mantendo viva a hospitalidade timorense.

O chefe da aldeia, Francisco Soares, disse que com a energia solar as crianças já podem estudar à noite e o país pode trabalhar em busca de mais sustento. Além disso, relatou que as famílias se beneficiam do projeto economizando dinheiro na compra de velas e lenha.

O morador Manuel Morais mostrou a sua casa, onde moram nove pessoas, incluindo as suas duas filhas. Ele relatou que a luz o ajuda a trabalhar à noite, organizando os artesanatos que vende no mercado para poder sustentar melhor os estudos dos filhos.

Autogestão comunitária

A coordenadora do projeto do PNUD, Yuuka Mamekoshi, explicou que o painel solar alimenta todas as luzes da casa e também tomadas que podem ser usadas para carregar dispositivos eletrónicos.

Disse que esta aldeia foi escolhida porque ainda não tem acesso à rede energética nacional. Sobre a distribuição de painéis solares nas residências, Yuuka disse que a decisão é dos próprios moradores.

O PNUD organiza reuniões comunitárias onde os habitantes exercem pleno poder de decisão sobre a direcção do projecto e desenvolvem um sentido de cooperação.

Energia limpa em comunidades rurais

A agência atua em três municípios, onde mais de mil famílias já receberam iluminação baseada em energia solar.

Além disso, o projeto iniciou a reabilitação e solarização de 15 laboratórios de informática escolar nestes mesmos três municípios. A reforma está prevista para ser concluída até julho de 2025.

A iniciativa, apoiada pelo governo do Japão, centra-se na melhoria do acesso à energia limpa nas comunidades rurais e no sector público em Timor-Leste.