ONU investe na juventude como agentes de mudança no Timor-Leste

Ao assinar o Pacto para o Futuro em Setembro, os países membros da ONU comprometeram-se a melhorar a representação dos jovens nas estruturas políticas oficiais, bem como nas políticas nacionais e nos processos de tomada de decisão.

Timor-Leste tem um enorme potencial para atingir estes objectivos, uma vez que mais de 70% da sua população tem menos de 35 anos de idade.

Transferindo liderança para as novas gerações

A conselheira especial da presidência do país, Bella Galhos, considera que a principal prioridade deve ser a “integração dos jovens líderes no processo de desenvolvimento nacional e o fortalecimento do papel das mulheres”.

Galhos foi uma das jovens que lutou pela restauração da independência de Timor-Leste, tornando-se um ícone do movimento de solidariedade internacional, responsável por diversas mobilizações, inclusive na ONU, a favor da causa timorense.

Numa entrevista à ONU News, ela afirmou que se os actuais líderes “não transmitirem a liderança às gerações mais jovens, nos próximos anos o país não chegará a lado nenhum”.

Para enfrentar as barreiras que resultam na baixa participação dos jovens na política, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, está a implementar uma série de projetos inovadores.

Ônibus da Democracia

Um deles é o “Ônibus da Democracia”, que surgiu como forma de superar o isolamento geográfico e o acesso limitado a recursos, como a internet, que dificultam o envolvimento dos jovens rurais na vida política do país.

O veículo está equipado com um estúdio móvel de podcast, onde jovens de comunidades remotas podem partilhar as suas ideias e interagir com os decisores, num programa denominado “Viagem Política”.

O equipamento inclui ainda uma ferramenta de investigação baseada em Inteligência Artificial para agregar dados produzidos em workshops, debates e sessões de criação coletiva onde os jovens timorenses são convidados a exprimir-se.

Segundo o PNUD, nas viagens pelo país, o autocarro “promove a inclusão e incentiva a participação ativa dos jovens na tomada de decisões”, com especial enfoque nas mulheres e nos grupos marginalizados.

Parlamento Juvenil

A iniciativa faz parte de um projeto denominado “Conversas Juvenis”, que identificou uma “baixa confiança generalizada na democracia” entre os jovens.

Portanto, o PNUD centra-se em reconectar este grupo com os processos políticos que moldam as suas vidas. A agência apoia o Parlamento Nacional de Timor-Leste na preparação e execução do “Parlamento Jovem”, que realizou a sua terceira edição em Agosto deste ano.

Na atividade, cerca de 40 alunos do ensino secundário assumem o papel de parlamentares, participando em debates e processos de tomada de decisão. Durante dois dias, os alunos tiveram a oportunidade de discutir e aprovar recomendações, simulando trabalhos legislativos e ampliando sua compreensão sobre democracia.

Estimulando o empreendedorismo

Além das oportunidades limitadas de participação na vida política, os jovens timorenses também enfrentam baixo acesso a uma educação de qualidade e elevadas taxas de desemprego.

Neste sentido, o PNUD também desenvolve esforços para formar jovens na área económica.

No final de Outubro, a agência lançou, em parceria com o Banco Asiático de Desenvolvimento, a Incubadora de Empreendedorismo Juvenil no município de Baucau.

O evento serviu para fornecer aos aspirantes a líderes empresariais o conhecimento, os recursos e a inspiração necessários para “moldar o futuro da economia do país”.

No workshop, os jovens tiveram a oportunidade de interagir com os decisores para colaborarem diretamente na cocriação de políticas.

Ao longo do evento, as equipas “Democracy Bus” e “Conversas Juvenis” recolheram opiniões ao vivo dos participantes através de inquéritos e infografias em tempo real, captando ideias, preocupações e aspirações dos jovens empreendedores de Baucau.