Usina de Arte: o museu a céu aberto que aspira ser…

Usina de Arte: o museu a céu aberto que aspira ser…


Há duas semanas, a portuguesa Joana Vasconcelos — uma das artistas plásticas mais elogiadas da Europa — veio ao Brasil para explorar um terreno muito diferente dos cenários habituais das suas obras. Conhecida por suas grandes esculturas com aura pop, ela investigava o local ideal para um futuro projeto em uma instituição que aos poucos ganha destaque no Brasil e no exterior: a Usina de Arte. Localizada na Zona da Mata de Pernambuco, ocupa uma área verde de 40 hectares em meio às ruínas da antiga Usina Santa Terezinha — produtora de açúcar que era a maior do país na década de 1950, mas que na década de 1990 entrou em declínio e vem sendo desativado. Por iniciativa de seu herdeiro, o empresário Ricardo Pessôa de Queiroz, 62 anos, junto com sua esposa, Bruna, 41, o espaço bucólico se transformou ao longo dos últimos oito anos em um misto de jardim botânico com espécies raras e palco para experimentos artísticos ousados ​​– e desconcertantes.

FORÇA VISUAL – Esculturas metálicas entre palmeiras (acima, à esquerda), a obra Cabeça de Bandeirante (à direita) e a Diva “picante”: ideias ousadas e polêmica com os conservadores (Andrea Rego Barros/Divulgação Usina de Arte; @juliana_notari/Instagram; Andrea Rego Barros/Divulgação Usina de Arte/.)

Ao combinar um paisagismo exuberante e os chamados arte paisagística — caracterizada por instalações e esculturas que dialogam com o cenário natural — a Usina de Arte remete imediatamente ao projeto que se tornou referência brasileira (e mundial) nessa categoria, o Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG). A Usina é, em mais de um aspecto, semelhante ao Nordeste e menor que sua precursora mineira — e seus mentores não negam a inspiração. “Depois de uma visita ao Inhotim, achamos que faria sentido criar um parque que gerasse fluxo de turismo e interesse na região”, diz Pessôa de Queiroz. O empurrão final foi contratar o popular designer de móveis naturais Hugo França para criar ali suas criações. “Convidamos o Hugo para trabalhar aqui. Ele veio em 2013, 2014 e, em 2015, sugeriu que convidássemos outros artistas. Foi aí que começamos a nos aprofundar na ideia”, conta Bruna.

Quase uma década depois, o jardim botânico da Usina de Arte, fachada principal do projeto, conta com extenso paisagismo e mais de 45 obras de artistas contemporâneos, que podem ser visitadas gratuitamente. A maioria foi feita especialmente para o local, seguindo a lógica das residências, nas quais os artistas são convidados a passar um período em contato com a região e a comunidade de Santa Terezinha, com 6 mil habitantes. “Tudo está interligado e pensado para o lugar”, atesta Marc Pottier, que assumiu a curadoria em 2022.

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PERFORMÁTICA - Abramovic e sua escultura na Usina: telúrica
PERFORMÁTICA – Abramovic e sua escultura na Usina: telúrica (Andrea Rego Barros/Divulgação Usina de Arte/.)

Em outra curiosa semelhança com o Inhotim, a Usina também é fruto da obsessão de seus frequentadores em criar um legado monumental — ideia que olhos míopes poderiam considerar puro capricho de gente abastada, mas que, na verdade, denota um louvável espírito público , proporcionando à população local acesso à cultura e também aos lucros do turismo. Com um projeto que alia arte a ações educativas, como biblioteca e escola de música, a Usina ganhou visibilidade nos últimos anos. Além do casal, que vem de famílias muito tradicionais de Pernambuco, há parcerias com entidades públicas e privadas para divulgar o projeto. A principal atração é o Festival Arte na Usina, que acontece anualmente no mês de novembro e já reuniu nomes como Alceu Valença, Arnaldo Antunes e Chico César. “O que funciona é o boca a boca. Nossa visitação vem crescendo ano após ano”, comemora Bruna.

O sucesso vem acompanhado de algumas polêmicas. Desde o início, um projeto deu visibilidade internacional ao local – mas também incutiu a fúria conservadora. Colocada pela artista pernambucana Juliana Notari em um dos pontos altos do terreno, a escultura Divã emula um órgão sexual feminino gigante e vermelho. Entusiasta da arte contemporânea, Bruna minimiza a polêmica: “Enquanto a obra chocou o mundo, a nossa comunidade, que é fortemente católica e evangélica, se saiu muito bem”.

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POP - Ricardo e Bruna Pessôa de Queiroz com Joana (no centro): arte personalizada
POP – Ricardo e Bruna Pessôa de Queiroz com Joana (no centro): arte personalizada (./Arquivo pessoal)

Parte do que move o casal mecenas é, claro, o prazer de conviver e interagir com os artistas. Antes da visita da portuguesa Joana Vasconcelos, o destaque foi a artista performática Marina Abramovic´, que ali inaugurou a escultura gerador: uma parede monumental de 25 metros de comprimento que incentiva as pessoas a entrar em simbiose com a natureza através dos cristais. Falas telúricas à parte, a obra é linda — e confirma a força deste ousado museu a céu aberto.

Publicado em VEJA em 18 de outubro de 2024, edição nº. 2915



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