Nesta sexta-feira, 29, a tão aguardada minissérie chega à Netflix Senaque dramatiza a vida do piloto brasileiro que foi tricampeão de Fórmula 1. Dividida em seis episódios, a trama é o maior projeto nacional da plataforma e contou com uma estrutura digna de Hollywood para tirá-la do papel. Filmada em países como Brasil, Irlanda do Norte, Argentina e Uruguai, a produção protagonizada por Gabriel Leone investe pesado nas cenas de corrida, o que se revelou um grande sucesso para a produção.
Com uma mistura de efeitos práticos e visuais, Sena reproduz nos mínimos detalhes carros e acontecimentos marcantes da carreira de Ayrton, criando uma atmosfera imersiva por meio de tecnologias de ponta como uma caixa de telas de LED, reconstrução digital de pistas de corrida e até uma plataforma construída do zero que simula os movimentos do carro. O pesado investimento reflete-se em cenas enérgicas e realistas, que reconstroem com precisão cinematográfica corridas sob sol e chuva, e em diferentes locais do mundo. O rigor técnico da trama também é uma marca mais que bem-vinda do audiovisual brasileiro, elevando a visibilidade das produções do gênero no país.
Além da parte técnica, que é muito bem feita, a série consegue mostrar a relação de Senna com companheiros como Prost e com os figurões do automobilismo mundial, faceta que revela que o piloto não era um santo imaculado, e perdeu a cabeça quando veio para a competição. Quente, ele entrou em confronto com a mídia inglesa diversas vezes, conquistando espaço como latino em um esporte majoritariamente europeu. Ele também nunca deixou nenhuma corrida na pista passar barato, e chegou a perder diversas corridas apostando no tudo ou nada — como o infame GP de Mônaco de 1988, reproduzido na trama, em que bateu sozinho quando liderava a corrida com quase um minuto de vantagem sobre ele. Prost.
Apesar de fazer brilhar os olhos, a produção tem seus defeitos. Com apenas seis episódios, a falta de um contorno mais definido é o maior defeito da trama. Isso porque, ao contar a história de Senna desde a infância no kart até sua morte precoce no GP de San Marino, aos 34 anos, partes da vida do piloto acabam passando muito rapidamente, não permitindo grande profundidade. Isto inclui, entre outras coisas, as dificuldades vividas nos primeiros anos na F1, correndo por Toleman e Lotus, camadas mais profundas sobre Ayrton, além da imagem de um ídolo imaculado, e a relação do piloto com Adriane Galisteu, que na vida real teve muito mais importância do que os pouco mais de dois minutos de tela concedidos a ela — embora grande parte disso também se deva à antipatia que a família Senna (que participou do a produção)) nutrida pelo apresentador. O balanço final, porém, é positivo e tem potencial para voltar mais uma vez os olhos do mundo do automobilismo — e, com sorte, da indústria audiovisual — para o Brasil.
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