Oliviero Toscani, o fotógrafo que transformou a pu…

Num outdoor, três fotos de corações (o próprio órgão) lado a lado apresentam, acima de cada uma das imagens, as palavras branco, preto, amarelo. Na lateral, o logotipo da marca italiana de roupas United Colors of Benetton. Em outra propaganda da marca, uma mancha vermelha de sangue se espalha sobre um fundo branco – no topo da imagem, um apelo da comissão de refugiados da ONU, pedindo doações para os deslocados pela guerra no Kosovo. Por trás destes anúncios provocativos e pouco convencionais estava o fotógrafo italiano Olivero Toscanique morreu esta segunda-feira, aos 82 anos, vítima de amiloidose, uma doença metabólica rara e incurável.

Ao longo de seis décadas, Toscani deixou sua marca no mercado publicitário ao trazer para um meio de grande visibilidade, mas pouco ativismo, temas caros à sociedade como racismo, religião, guerra, anorexia, homossexualidade, fome, entre outros.

O primeiro escândalo ligado ao seu trabalho aconteceu na década de 1970, quando uma campanha da marca Jesus Jeans mostrou um close das nádegas de Donna Jordan, vestindo shorts da empresa, com a frase: “quem me ama, me segue” – uma clara trocadilho. com o nome da marca. A polêmica não o atrasou. Pelo contrário, na década de 1980 associou-se à Benetton e começou a criar diversas campanhas em que o contraste das cores da pele era usado como peça central, desde uma mulher negra amamentando uma criança branca, até às tradicionais imagens pelas quais a marca ficou conhecida. , com modelos de diferentes etnias adotados.

“Para explicar certas coisas não bastam palavras. Isso é o que você nos ensinou. Adeus, Oliveira. Continue sonhando”, publicou Benetton no Instagram em homenagem ao fotógrafo.

Toscani também chamou a atenção do mundo para questões de saúde pouco comentadas na época – em uma peça, ele publicou a imagem real de um homem morrendo de AIDS no hospital; em outro, o de uma modelo que sofria de anorexia. Em 2011, num mundo teoricamente mais liberal, causou polémica ao publicar uma montagem de personalidades mundiais a beijarem-se na boca, incluindo o Papa Bento XVI e o Imã do Cairo. “Não é uma foto que faz história, é uma escolha ética, estética e política”, disse certa vez. Toscani deixa um legado incomparável — e uma lição para um ambiente que se esconde dos problemas do mundo.