‘Milton é sagrado’, é diz Esperanza Sp…

‘Milton é sagrado’, é diz Esperanza Sp…


Aos 81 anos, Milton Nascimento lança seu primeiro álbum na próxima sexta-feira, 9 Milton + Esperança, depois da turnê de despedida dos palcos que realizou com imenso sucesso no ano passado. O álbum sai em parceria com seu fã declarado, o multipremiado baixista norte-americano Esperanza Spalding, 39 anos. Em comum, a dupla tem uma devoção ao músico de jazz Wayne Shorter, amigo de longa data de Milton, falecido no ano passado.

No álbum, Esperanza canta em português, assim como Paul Simon, além de participações especiais de Dianne Reeves, Lianne La Havas e dos brasileiros Tim Bernardes, Maria Gadú, Guinga e Lula Galvão. Esperanza conversou com VEJA sobre o lançamento e disse que a única participação especial que não conseguiram foi com Paul McCartney, de quem Milton é fã declarado. “Se alguma vez houver uma faixa bônus, terá que ser com McCartney”, disse o artista.

A relação de Esperanza com Milton é antiga. Os dois tocaram juntos no Rock in Rio em 2011 e Esperanza participou de alguns shows nos Estados Unidos na turnê de despedida de Milton. Além de interpretações de clássicos de Milton, como Cais e Saudade Dos Aviões Da Panair, cujos vocais Esperanza entrega em português, há também releituras de Beatles, como A Day in the Life, e Earth Song, de Michael Jackson. Outro luxo é a participação da Orquestra Ouro Preto nas músicas Wings For The Thought Bird (composta por Esperanza especialmente para Milton) e Morro Velho. De Wayne Shorter, a dupla gravou When You Dream, que fecha o álbum. A maior parte das gravações do álbum aconteceu no Brasil, em um estúdio no Rio de Janeiro e também na casa de Milton, no bairro do Joá. Abaixo estão os melhores momentos da entrevista:

Capa do álbum ‘Milton + Esperanza’ (//Divulgação)

Seu relacionamento com Milton Nascimento é antigo. Qual é a sua primeira lembrança de ouvir a música dele? Ouvi isso pela primeira vez assim que cheguei a Berkeley. Já conhecia um pouco de música brasileira. Acho que foi minha amiga brasileira Amanda, que é baixista. Ela veio ao meu quarto e tocou um disco para eu ouvir. Achei poderoso, sagrado. Ainda me sinto assim em relação à música dele e também à música de Wayne Shorter. Isso abriu diversas portas para ouvir sua música e também a do Clube da Esquina.

Em 2011 você tocou com ele no Rock in Rio. Como foram os bastidores daquela apresentação? Eu senti que ensaiamos pouco. Que não tivemos tempo suficiente para realmente aprender a música. Lembro-me daquela sensação de: “esta é a maior oportunidade da minha vida”. Na época, foi a maior coisa que já aconteceu comigo. Havia tantas coisas acontecendo na minha vida, na turnê, e eu só me lembro de ter pensado: “Droga, eu gostaria de ter ensaiado melhor as músicas dele”. Mas foi tão incrível. Ele é uma bênção para a humanidade. Lembro que na noite do Rock in Rio estava chovendo muito antes do show. A equipe estava enlouquecendo e todos estavam cobrindo seus instrumentos e se perguntando se teríamos que cancelar o show. Ele estava lá atrás, calmo. Perguntei se ele não estava preocupado. Ele olhou para mim e disse: “Nunca chove quando eu jogo”. E quando chegou a hora do show, parou de chover.

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Como surgiu a oportunidade de gravar esse álbum em parceria com ele? É algo que eu queria há muito tempo e até esqueci porque parecia impossível. Sempre que temos um artista favorito, imaginamos um dia trabalhar com ele, mas não achamos que isso possa realmente acontecer. É apenas uma inspiração. Sempre quis esse disco, mas nunca pareceu que houvesse uma possibilidade real de fazê-lo. Mas a história de origem deste disco não é nada sensacional. Eu estava em Boston conversando com o filho dele. Ele estava fazendo sua turnê de despedida no palco. Eu tinha tocado com ele em Nova York. Então, o filho dele disse que eu deveria produzir um álbum com o Milton. Achei que se fosse fazer isso teria que ser no Brasil. Viajei para o Rio e começamos a gravar.

Você canta em português no álbum. Você já se sente confortável falando e cantando em português? Me conecto muito com o significado das letras do Milton e do Márcio Borges. Eles são tão profundos. Tento me concentrar nisso, porque sei que não estou dizendo isso perfeitamente, mas entendo o que significam. Isso é tudo que posso fazer. Falo um pouco de português, mas ainda assim é constrangedor.

Milton Nascimento tem 81 anos e sua saúde é boa. Mas é preciso cuidado devido à idade avançada. Como foi a dinâmica de gravação entre vocês dois? Sim, ele tem limitações físicas, mas é isso. Por dentro, ele é a mesma pessoa. O mesmo cérebro. O mesmo coração. O mesmo humor. A mesma memória. E, claro, a mesma paixão pela música. Portanto, tudo o que precisávamos fazer era ser sensíveis às mudanças na sua fisicalidade. É como uma árvore ou um espírito. Torna-se mais refinado, bonito e profundo com o tempo. Eu senti isso mais do que suas limitações físicas. Claro, talvez ele não se mova como um jovem de 25 anos, mas tem 81 anos. Definitivamente senti isso com o Bituca. Ele sempre foi muito humilde. Ele é a pura essência do ser.

São diversas participações especiais no disco, como Paul Simon, Dianne Reeves, Lianne La Havas, além de brasileiros como Maria Gadú, Tim Bernardes, Lula Galvão e Guinga. Alguém estava faltando? Milton queria muito cantar com Paul McCartney. E isso simplesmente não aconteceu. Foi a única coisa que ele não acertou. Se alguma vez houver uma faixa bônus, será com McCartney. Foi o único sonho que não se realizou.

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