Cartunista, autor, dramaturgo e roteirista americano Jules Feiffer (1929-2025) foi um homem à frente de seu tempo, equilibrando em sua obra uma visão contundente do mundo com um olhar generoso sobre os seres humanos que o habitam. Ele foi capaz de abraçar e compreender o universo maniqueísta da super-heróis e posteriormente retratar situações cotidianas cheias de nuances em seus desenhos animados, peças de teatro, roteiros e livros. Tornou-se uma referência indelével em sua área. O mundo das artes gráficas e da cultura pop perdeu este gigante na sexta-feira, dia 17. Ele morreu em sua casa em Richfield Springs, Nova York, como resultado de insuficiência cardíaca congestiva. Ele tinha 95 anos.
A carreira de Feiffer começou cedo, aos 17 anos, como assistente de ninguém menos que Will Eisnerno estúdio do criador de O Espírito. Ele aprendeu o ofício e, com o tempo, começou a criar histórias para o personagem. Em 1956, Feiffer juntou-se à nascente Voz da Aldeiaum semanário que se tornaria referência cultural nas décadas seguintes. Foi lá que seu policial, com seu Designs elegantes, diálogos nítidos e personagens memoráveiscomo a “bailarina”, conquistou o público.
A fama foi consolidada com o distribuição da tira para centenas de jornaise o talento de Feiffer se expandiu para teatro, cinema e literatura, com peças teatrais, filmes, livros infantis e adultos. No brasil, Algumas de suas obras mais conhecidas sãoO homem no teto e Pequenos Assassinatos. Para os fãs de quadrinhos, Os grandes heróis dos quadrinhos É uma leitura obrigatória, um dos primeiros estudos sérios sobre super-heróis.
Que temas te emocionaram?
Os temas de Feiffer giravam em torno do relações humanas, sexo, casamento, política e vida urbana, sempre com um olhar crítico e perspicaz sobre as neuroses da sociedade moderna. O humor ácido e a sensibilidade presentes em suas obras influenciaram artistas como Woody Allen, outro nova-iorquino com raízes na cultura judaica.
Mesmo aos 85 anos, Feiffer continuou a inovar lançando sua primeira história em quadrinhos Mate minha mãe, uma história noir com toques de humor. Vale destacar também o filme Ansiando por amar (Conhecimento Carnal, 1971)escrito por Feiffer e dirigido por Mike Nichols, um retrato cru e, talvez, ainda mais relevante hoje, da masculinidade tóxica.
Infelizmente, grande parte da obra de Feiffer permanece inédita em português, e mesmo em inglês muitos títulos estão esgotados. Uma perda para o leitor contemporâneo, que se vê privado de um artista que soube aliar crítica social, inteligência e humor como nenhum outro. Jules Feiffer nos deixa um legado de inteligência e sensibilidade, um convite para questionarmos o mundo e a nós mesmos com um sorriso no rosto.
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