No início dos anos 2000, eu estava muito estressado com a vida como cantor. Foram muitas viagens, shows e trabalhos com a produtora que ele acabara de montar. Eu era um workaholic. Os médicos me avisaram para diminuir o ritmo. Comecei a ter pesadelos constantes de ter que fazer uma gravação no topo de uma montanha e ter que carregar o equipamento sozinho. O significado psicológico era evidente: fiquei sobrecarregado. Até que, há uns dez anos, comecei a sentir leves tremores nas mãos. Após consulta com vários especialistas, chegou o diagnóstico definitivo: tenho doença de Parkinson.
Na época, tomei a decisão de não ficar deprimido com o resultado. Não há cura, mas há tratamento para os sintomas e foi possível diminuir as causas dos tremores diminuindo o ritmo de trabalho e, claro, me medicando. O Parkinson causa vários problemas motores. Você perde muito movimento nas mãos e nas pernas. Hoje a doença está controlada e posso caminhar, malhar, nadar e até andar de bicicleta, mas sem exageros. Eu não consigo me cansar. Falar e cantar me cansa muito, e tudo que exige atenção e concentração pode desencadear algumas crises. Sempre que me sinto ansioso ou atrasado no cumprimento de um prazo, os tremores voltam. Descobri que deveria me preocupar menos e fazer coisas que me trouxessem alegria e contentamento, porque a dopamina me ajuda a relaxar. Decidi optar pela pintura. Quando eu era jovem, estudei com meu pai, Milan Dusek, que era artista. Depois fui para a escola de arquitetura, que logo abandonei para fazer música. Após a morte do meu pai, porém, assumi seu ateliê, com os instrumentos, pincéis e tintas. E comecei a pintar novamente.
Também comecei a fazer shows e palestrar em associações de pacientes com Parkinson. Nessas reuniões costumo dizer que você precisa aceitar a doença, não só o Parkinson, mas qualquer doença que vai te acompanhar pelo resto da vida. A doença não pode ser vista como algo ruim e você não deve se perguntar: “Por que eu?” Esta pergunta parece um pouco ridícula. São situações que nos fazem ter mais conhecimento sobre a vida. A doença é uma grande conselheira. É um fator de iluminação. Não me vejo como uma pessoa pobre. Sou um romântico incurável. Sou feliz, não tenho estresse: tenho amor e trabalho. As dívidas estão sob controle. Não fico chateado com os problemas, nem fico triste. Mudei da loucura do Rio de Janeiro para Niterói, perto de uma praia tranquila.
Nunca escondi a minha doença do público, mas nas últimas semanas, depois de fazer uma aparição especial no Horas altas, da Globo, comecei a receber uma enxurrada de carinho e mensagens positivas. Com Serginho Groisman, senti vontade de falar publicamente sobre a doença. Não quero que tenham pena de mim, porque não sou uma galinha. Cantei e dancei no programa sentada em uma cadeira de rodas, numa coreografia estilo Charlie Chaplin, em homenagem ao meu grande amigo Ney Matogrosso. Foi um dia especial.
Sempre fui bem-humorado e meu bom humor me ajuda a lidar com a situação. Se deixo cair um prato no chão, tiro sarro de mim mesmo. Não vou deitar na cama e esperar a morte chegar. Este é o caminho errado. Não sou um herói e a doença não é motivo de infortúnio ou alegria. Não vou continuar tentando convencer as pessoas a seguirem uma crença. Todo mundo tem o seu. Mas acredito na energia de conexão com o universo. Mantenho a morte sentada ao meu lado esquerdo e sirvo suas bebidas. Um dia, isso se manifestará. Deixarei um vídeo gravado para ser exibido no meu velório. Estarei vestido de anjo e contando piadas. Não sou palhaço, mas não tenho culpa se o mundo é uma piada. Não tenho data de falecimento. Eu gosto de viver.
Eduardo Dussek em depoimento a Felipe Branco Cruz
Publicado em VEJA em 14 de junho de 2024, edição nº. 2897
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