Carta ao Leitor: Rotina estrelada

Billy Wilder trabalhou como correspondente estrangeiro antes de filmar sucessos atemporais como Crepúsculo dos Deuses. Essa experiência na imprensa (e seu sarcasmo) o inspirou a realizar dois longas igualmente clássicos, retratando os repórteres como profissionais inconsequentes e sensacionalistas: A Montanha dos Sete Abutres e A primeira página. No mundo de Hollywood, onde Wilder se tornaria um dos maiores diretores de todos os tempos, a cobertura jornalística tem, de fato, o desafio permanente de evitar a superficialidade. Também é preciso muito esforço para não retratar estrelas e grandes produções de forma deslumbrada. Essas dificuldades tornaram-se ainda maiores nos tempos da internet e das redes sociais, terreno fértil para a divulgação de manchetes descartáveis ​​destinadas apenas a gerar um clique imediato.

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Ao longo dos seus 56 anos de história, OLHAR orgulha-se de manter o alto padrão no tratamento jornalístico das questões culturais como um de seus pilares editoriais. A cobertura da área cinematográfica, que sempre recebeu espaço privilegiado nas páginas da edição impressa, agora também aparece em reportagens no site e em vídeos produzidos pela equipe, que ficam disponíveis no canal VER+. Responsável por esses conteúdos em diversas plataformas, a editora Raquel Carneiro é uma das profissionais mais competentes e respeitadas do setor. São essas credenciais que abrem as portas para encontros com as maiores estrelas do mercado. Somente para esta edição, o jornalista entrevistou o incenso diretor Woody Allen e dois atores com estatuetas do Oscar no currículo, Matthew McConaughey e Jeff Pontes.

A rotina repleta de estrelas de uma jornalista como ela não é tão glamorosa quanto parece. Raquel já enfrentou uma viagem de ida e volta de 48 horas de São Paulo a Londres para ter direito de ver Avatar 2 em primeira mão e entrevista o diretor James Cameron. Integrante da equipe de Cultura de VEJA desde 2013, ela conversou com Madonna sobre religião, política e vinho — e, mais recentemente, discutiu os rumos distópicos da humanidade com a escritora canadense Margaret Atwood, autora do fenômeno O conto da serva. Raquel é um exemplo de profissional que domina a arte de fazer até as figuras mais poderosas de Hollywood quebrar o gelo e se abrir com franqueza. De Steven Spielberg, ela ouviu histórias sobre sua rivalidade amigável com os colegas Martin Scorsese e Francis Ford Coppola. Há alguns meses, em entrevista ao programa Em exibiçãode VEJA, recebeu uma piada bem-humorada do astro irlandês Colin Farrell ao mostrar-lhe sua gatinha —chamada, veja só, Sofia Coppola, em homenagem ao cineasta. O maior beneficiário de tanto amor e dedicação ao cinema é, sem dúvida, o leitor.

Publicado em VEJA em 13 de setembro de 2024, edição nº. 2910