Brasileiros superam tabu e disputam Emmy em catego…

Existe um estigma antigo que ronda o cinema brasileiro, que classifica o som das produções locais como ruim. Um grupo de brasileiros, porém, está disposto a quebrar esse tabu: nesta quinta-feira, 26, esses profissionais, da produtora Input Post, concorrem ao Emmy americano na categoria melhor som com o documentário Explorando o desconhecido: a pirâmide perdidadisponível na Netflix. A empresa de pós-produção nasceu no Brasil e hoje também possui escritórios nos Estados Unidos e no Canadá. O currículo do grupo inclui títulos como a série documental Harry e Meghanestrelando o casal rebelde real britânico e o curta documentário O Barbeiro de Little Rockindicado ao Oscar este ano — além, é claro, de títulos nacionais, como a série 3% e o documentário Democracia em Vertigemque também concorreu ao Oscar.

A categoria técnica pode ser menos glamorosa que muitas outras, mas é parte essencial da experiência do espectador com a obra. Uma boa edição sonora é, principalmente, uma ferramenta de imersão que leva o público a um universo específico, que inclui as línguas faladas por um povo, os ruídos que compõem uma cultura, sua música, entre outros detalhes. “Essa indicação ao Emmy nos deixa muito felizes, pois este é território norte-americano. Estamos orgulhosos de ter estourado esta ‘bolha’. Foi necessário superar barreiras linguísticas, culturais e, o mais difícil de todas, económicas: montar uma estrutura em Nova Iorque que concorra com as multinacionais não é tarefa fácil”, diz o supervisor de som paulista Fernando Henna, que divide o cargo e a parceria da empresa com Mário Di Poi, de Minas Gerais, Eber Pinheiro, de Vitória, e Rafael Benvenuti, de São Paulo.

Para o profissional, grande parte do estigma que envolve a questão do som no audiovisual brasileiro envolve preconceito contra a cultura local. “Hoje em diaequipamentos e qualificações profissionais são padronizados e difundidos em todo o mundo. O que falta é olhar os filmes nacionais com menos preconceito”, afirma Henna. “Temos que aprender a achar nossos sons bonitos também. Em vez de ouvir um carro superpotente num filme da Ferrari, é legal ouvir um carro comum, um carro manso na rua, e se identificar com ele e ver a excelência técnica nele.”

O filme Explorando o desconhecido: a pirâmide perdida segue arqueólogos egípcios que, enquanto procuravam por uma pirâmide enterrada, descobriram tumbas e artefatos com mais de 4.000 anos. O processo de mixagem de som do documentário envolveu equipes em Nova York, Los Angeles e Paris, além de um consultor árabe no Cairo. “Realizamos mixagens em tempo real, algo que era impossível — até pela aceitação de produtores e diretores — antes da pandemia”, diz Henna sobre as mudanças recentes no mercado, que vem investindo em novas plataformas de mixagem online. Em suma, a mistura de Brasil e Egito que o mundo precisava.