Num texto longo e carregado de emoção, o ator Bruno Fagundesfilho de veterano de TV Antonio Fagundesse abriu sobre como se sente ao ser resumido pelo termo “nepo baby”, usado para artistas privilegiados por serem filhos de famosos. O texto publicado nas redes sociais partiu da reflexão de Fernanda Torres, que falou sobre o tema à revista Feira da Vaidade. Para a atriz, filha de Fernando Torres e Fernanda Montenegro, seguir os passos dos pais é uma “tradição”. “Como a família dos artistas de circo – é uma coisa linda”, disse ela. “Claro que sou filho do privilégio”, escreveu Bruno, que entra na novela este ano Volte ao topoda Globo. “Mas isso não significa que minha trajetória não seja digna de resultados e reconhecimento.” Confira abaixo o texto completo do ator:
“Reflexão: Talvez, a partir dessa fala da nossa ícone Fernanda Torres, o frenesi sobre esse assunto se acalme um pouco. Cansei de ter que responder perguntas da imprensa especializada com bobagens, cheias de acidez e repressão, transformando minha condição biológica – pela qual sinto gratidão, orgulho e honra – em culpa. Acho que falo por todos que são assediados por esse tipo de mídia clickbait, que constantemente força o assunto, como se fosse necessário se posicionar e pedir desculpas por isso. Mas nunca baixei a cabeça para isso.
Claro que sou um filho privilegiado. A maioria de nós, que tem ensino superior, comida na mesa, um teto sobre a cabeça e um celular na mão, está. Mas isso não significa que minha trajetória não seja digna de resultados e reconhecimento. Não implica uma trajetória menor ou imerecida. Como disse Fernanda, existe uma responsabilidade, um legado a ser continuado — um padrão muito alto a ser alcançado — mas que, através da observação e do exemplo, se transforma em uma bela meta. Uma oportunidade privilegiada, sim, mas também única, baseada na tradição e na aprendizagem dos nossos precedentes. No caso da Fernanda, como no meu, uma tradição de excelência.
Ganhei meu primeiro salário como ator aos 16 anos, em um longa-metragem chamado Fim da linha. Fiz o teste e fui selecionado. Desde então, nunca passei um dia da minha vida sem me dedicar integralmente ao que hoje, além da minha profissão — da qual celebro ter construído uma carreira de forma independente — é também o meu senso de propósito e identidade (confio à minha profissão o a categoria da missão Algo maior que a nossa vontade, com um ar quase religioso de predestinação, fardo, prazer, bem maior, etc.).
Mas o fato é: eu não precisaria disso. Se meu interesse fosse apenas aproveitar o privilégio e não construir nada a partir dele, eu poderia. Mas eu escolhi o trabalho. E o fim deste trabalho não está apenas nele mesmo. Na perpetuação da tradição, nesta missão, encontro cura e elaboração através da troca. E tantas coisas lindas que a arte me proporciona.
Algo na sociedade de hoje, no entanto, implica que uma pessoa privilegiada não tem o direito de celebrar as suas conquistas, muito menos de sofrer de instabilidade emocional ou depressão. Este foi um ano difícil para artistas, técnicos, produtores e todos os envolvidos nas diversas partes da cadeia produtiva artística. Mas quando menciono isso nas entrevistas, dizem que estou pedindo emprego. E quando consigo um emprego, dizem que é porque sou nepo, amor. Seguindo essa lógica, os bebês nepo sempre têm seus desejos atendidos.
Quantos artigos escritos com ressentimento, contundentes nas palavras, ignorando o caminho que abri até aqui — caminho que hoje me permite entrar em novela no 11º mês do ano. Mais uma vez, sinto que as pessoas estão mirando nos alvos errados. Enquanto perdem tempo tentando gerar ódio e diminuir minha arte e dedicação incansável, tem muita gente enchendo o bolso de dinheiro às custas dos outros, vomitando mediocridade por aí e lubrificando as rodas que só estão interessadas em lucro e controle. Eu sou um artista. Quero a sua emoção e quero fazê-la voar na fantasia que meu trabalho constrói. Quero construir algo que honre a beleza de Fernandas, de Antônios, de Glórias, de Maras, mas que seja do Bruno — só dele.”
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