Novo sucesso da Netflix, Pedaço de mim une o melhor dos dois mundos das séries e novelas: um drama interessante, um elenco de alta qualidade, ótimo texto e suspense instigantes ao final de cada capítulo. Um dos maiores sucessos da produção customizada para streaming, porém, é uma lição que pode ser aprendida pela Globo: o ritmo certo para contar a história. Há anos, a emissora tenta encontrar a melhor forma de se adaptar ao streaming, com produções que tentam dialogar com a fotografia de séries — como as novelas das 21h. Um lugar ao sol (2021) e amor de mãe (2020) –, além de experimentar um formato mais curto, como em Todas as flores (2022), lançado diretamente no Globoplay, com 85 capítulos.
Obviamente seria injusto comparar uma série de 17 episódios com uma novela que precisa ter assunto para mais de 120 capítulos, a questão não é essa. A questão é que é possível tornar um enredo longo interessante, como Qualquer coisa serve (1988), que ostentava uma trama dinâmica e sem tempo para tédio durante seus 202 capítulos — aclamado até hoje por não ter a famosa “barriga”, termo usado para definir quando nada está acontecendo na história. E a emissora parece ter perdido o rumo, talvez porque cortou autores e diretores experientes de seu quadro.
No caso de Pedaço de mim, da autora, Ângela Chaves, e do diretor, Maurício Farias —ambos ex-Globo, a história de Liana (Juliana Paes), uma mulher que descobre que está grávida de filhos gêmeos de pais diferentes, é instigante na medida certa. caminho para o público que gosta tanto da velocidade da série quanto de um drama novelístico. Dividida em três fases, a produção apresenta mudanças de tempo que não são bruscas (usando um salto de dez anos e depois outro de sete anos), e as viradas e seus cliffhangers são tão relevantes dentro da trama que o espectador não consegue parar, não consegue parar. nem fique entediado até assistir tudo. Sempre acontecia algo curioso, mesmo nos núcleos secundários, que à primeira vista poderia parecer desinteressante.
A construção dos personagens a cada momento é outro trunfo da série, que traz o talento irrefutável de ex-figurões da Globo em, muito provavelmente, suas melhores atuações na carreira —como Juliana Paes, Vladimir Brichta (Tomás), Felipe Abib (Oscar) , Palomma Duarte (Silvia) e João Vitti (Vicente).
Mesmo não tendo a mesma vitrine da Globo, segunda maior emissora de TV do mundo, nem seu conhecimento em fazer novelas, a Netflix não hesitou em ir atrás de quem sabia, e o resultado é uma produção de qualidade em streaming que faz um tempo que não vejo na televisão. Resta saber se a plataforma conseguirá manter o padrão em uma aposta futura — ainda desconhecida. E mesmo que a rede de televisão esteja de olho na concorrência, ela chegou há muito tempo para trazer algo novo e igualmente interessante. De qualquer forma, quem ganhou foi o público — ou melhor, os assinantes do serviço que faz “tudo”.
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