Um rei de um poderoso império perde seu único filho e declara uma mulher herdeira do trono. Num universo patriarcal, marcado pelo machismo, a decisão desagrada parte da corte e da população que não aceita ter uma mulher como soberana legítima. O resultado é uma guerra violenta, impulsionada por intrigas familiares e muito derramamento de sangue. O enredo, é claro, descreve os acontecimentos de A Casa do Dragãosérie derivada de A Guerra dos Tronos focada no clã Targaryen, que estreou sua segunda temporada neste domingo, dia 17 — mas também aparece em livros de história medieval, explicando um período real que serviu de base para ficções famosas. “Me inspiro na História e aí pego elementos que intensifico”, disse o autor George R. R. Martinantes de afirmar que o enredo da série é baseado em um período denominado “anarquia”.
Inspiração para Dança dos Dragões, embate entre membros da fictícia família Targaryen, o verdadeiro conflito aconteceu na Inglaterra, entre 1138 e 1153. Mas a sequência de tragédias começou anos antes, em 1120, quando o rei Henrique I perdeu seu único filho e herdeiro, Guilherme Adelin, em um naufrágio. Como a esposa de Henrique havia morrido anos antes, ele decidiu nomear sua filha, a Imperatriz Matilda, como sua herdeira, e se casou com uma mulher muito mais jovem na esperança de ter novos herdeiros. Ao contrário do que acontece na trama ficcional, em que a personagem Alicent tem dois filhos com o rei, o monarca inglês não teve mais descendentes. Portanto, ele preparou Matilda para sucedê-lo e fez com que o tribunal jurasse lealdade a ela. Já adulta, ela se casou estrategicamente com um nobre normando e teve um filho, também chamado Henry.
História verídica dramática
Tudo parecia estar indo bem, mas quando o rei Henrique morreu em 1135, parte da nobreza rasgou o juramento de apoiar Matilda em nome da tradição. Com o herdeiro afastado do trono e o apoio de pessoas influentes, o primo de Matilda, Estêvão de Blois, roubou o trono, iniciando uma guerra civil. Os anos que se seguiram foram marcados por cercos longos e brutais, que tiveram efeitos desastrosos sobre os camponeses apanhados no meio do conflito. Durante este período, os campos e as aldeias foram abandonados, foram cobrados impostos arbitrários e as pessoas morreram de fome. Uma crônica da época relata que a população, tipicamente religiosa, sofria tanto que se dizia que Jesus Cristo e seus santos deviam estar dormindo.
Outra tragédia mudou o curso da história: o único filho de Estêvão de Blois morreu inesperadamente, deixando o reino, mais uma vez, sem herdeiros. Já velho e cansado de lutar, Matilda e seu primo selaram um acordo de paz: Estêvão permaneceria rei, e o jovem Henrique II, filho de Matilda, o sucederia. O processo não demorou a se concretizar. Um ano depois, Estêvão morreu e Henrique II subiu ao trono, que governaria por 35 anos, pondo fim à guerra. Já é o fim A Casa do Dragão Ainda levará algum tempo para ser conhecido na TV — mas os mais curiosos podem ler o livro Fogo e Sangue por Martinho.
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