Vacina injetável substitui a “gotinha” contra pólio em todo o País

Vacina injetável substitui a “gotinha” contra pólio em todo o País


Mesmo com a mudança para a vacina injetável, o ministério informa que a figura de Zé Gotinha continuará sendo símbolo das campanhas de imunização.

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Mesmo com a mudança para a vacina injetável, o ministério informa que a figura de Zé Gotinha continuará sendo símbolo das campanhas de imunização. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

A partir desta segunda-feira (4), o governo brasileiro implementará uma importante mudança em sua estratégia de combate à poliomielite, substituindo as doses de reforço da vacina oral contra a poliomielite (OPV) – a famosa “gotícula” – pela vacina inativada contra a poliomielite (VIP), administrada por injeção.

Segundo o Ministério da Saúde, a mudança vai ao encontro de uma tendência mundial de utilização do VIP, composto por partículas virais, em detrimento da versão oral, produzida com o vírus atenuado. Segundo o médico infectologista Fernando Chagas, um dos benefícios da substituição é que mais pessoas poderão receber a vacina injetável. Por se tratar de um imunizante que não utiliza vírus vivo atenuado, mesmo indivíduos com imunodeficiência podem ser vacinados.

Outra questão importante para a mudança do tipo de vacinação é a transmissão ambiental, afirma Silvia Nunes Szente Fonseca, pediatra e infectologista. Por se tratar de um produto oral, uma parcela do vírus atenuado presente na OPV é eliminada nas fezes das crianças vacinadas, disseminando o chamado “vírus da vacina contra a poliomielite”.

No passado, essa eliminação pelas fezes era importante porque colocava a população em contato com o vírus enfraquecido em locais onde não havia saneamento básico, estimulando a produção de anticorpos nesses indivíduos. O problema é que, em casos raros, o vírus pode sofrer mutações no ambiente, desencadeando a doença. “A vacina injetável, em que o vírus é inativado, elimina o risco do vírus sofrer mutação no ambiente”, afirma Silvia.

Outro aspecto positivo é a simplificação do calendário vacinal. Com a mudança, todas as doses da vacina serão injetáveis. As três primeiras doses, que já eram da VIP, continuarão sendo aplicadas aos 2, 4 e 6 meses de idade e, aos 15 meses, as crianças receberão uma dose de reforço, agora injetável, no lugar da gotícula.

A segunda dose de reforço, que antes era administrada por via oral aos 4 anos, não será mais necessária. “A vacina foi reforçada, então a vacina injetável não precisa de segunda dose de reforço”, diz Chagas.

Zé Gotinha

Segundo o ministério, entre 1968 e 1980, o Brasil registrou 25.183 casos confirmados de poliomielite, também chamada de paralisia infantil. Em 1980, o país iniciou a vacinação em massa da população e, em 1989, foi registrado o último caso da doença no país. Em 1994, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o Brasil livre da poliomielite.

Muito do sucesso das campanhas de vacinação ao longo das décadas pode ser atribuído à presença carismática de Zé Gotinha. Criado em 1986 pelo artista Darlan Rosa, o personagem desempenha um papel importante no imaginário do país. “Quando vemos a fantasia, já sabemos que lá tem vacina, lá as pessoas estão consumindo saúde, há uma estratégia de proteção coletiva”, diz Chagas.

Mesmo com a mudança para a vacina injetável, o ministério informa que a figura de Zé Gotinha continuará sendo símbolo das campanhas de imunização. (AE)