Universidade identifica variante da leishmaniose resistente ao medicamento mais usado no Brasil

Universidade identifica variante da leishmaniose resistente ao medicamento mais usado no Brasil


Células do sistema imunológico infectadas com cepa de Leishmania amazonensis resistente à anfotericina B.

Foto: Unicamp/Divulgação

Células do sistema imunológico infectadas com cepa de Leishmania amazonensis resistente à anfotericina B. (Foto: Unicamp/Divulgação)

Um estudo realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) encontrou uma variante da leishmaniose resistente ao medicamento mais utilizado para tratamento no país. A amostra foi retirada de um paciente, morador do Maranhão, que vinha tentando, sem sucesso, tratar a doença.

Esta foi a primeira vez que uma cepa do parasita Leishmania amazonensis resistente à anfotericina B foi encontrada no Brasil. O homem de 46 anos contraiu o tipo cutâneo (tegumentar) da doença – que é transmitida por mosquito e causa lesões persistentes na pele.

Porém, o achado não deve gerar alarme, pois serve apenas como alerta sobre a circulação, em locais endêmicos, de possíveis cepas resistentes que podem necessitar de outras formas de tratamento. Até o momento, não há indicação de que a doença esteja aumentando ou se tornando mais grave como resultado, segundo os pesquisadores que conduziram o estudo.

Resistência

O paciente infectado é proveniente de área endêmica para leishmaniose – ou seja, de região onde a doença ocorre com frequência. Segundo Adriano Cappellazzo Coelho, professor coordenador do estudo, o homem já havia feito tratamento com anfotericina B – que é uma das poucas opções no país para tratar essa forma da doença –, mas não teve resposta.

Surgiu então a ideia de avaliar a cepa isoladamente. O parasita foi levado ao laboratório e cultivado para pesquisa em modelos in vitro (em placa, microscopicamente) e in vivo (com animais, no caso, camundongos).

Problema?

A existência de uma cepa incomum não deve ser vista como um problema para a população, segundo Coelho. “Na Covid, havia pessoas da mesma família com diferentes tipos de infecção. Há pessoas que praticamente não tiveram sintomas e pessoas que tiveram sintomas graves. Com a leishmaniose, o estudo mostra que isso também pode acontecer.”

“Essa cepa pode eventualmente atingir outras pessoas. Esse paciente infectado ainda está naquela região e pode se infectar novamente. Isto é preocupante, porque é uma estirpe que não responde ao medicamento mais eficaz que temos. O não tratamento da leishmaniose é um problema sério”, comenta.
O paciente que motivou o estudo foi tratado com outro medicamento, a pentamidina – que, segundo o pesquisador, é mais tóxico – e teve boa resposta. Até o final de 2023, o homem não havia recaído.