Três em cada dez crianças e adolescentes foram ofendidos na internet no Brasil

Três em cada dez crianças e adolescentes foram ofendidos na internet no Brasil


Dados foram divulgados pela pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Três em cada dez crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos em todo o país (29% do total) já enfrentaram situações ofensivas ou discriminatórias na internet que os deixaram incomodados.

Além disso, 30% dessas crianças e adolescentes já tiveram contato com algum estranho pela internet. Esses são alguns dos riscos destacados pela pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), divulgada nesta quarta-feira (23) na capital paulista.

“Essa proporção [de contato com pessoas desconhecidas] É maior para pessoas mais velhas [entre as crianças e adolescentes]. Os idosos são mais diligentes e estão mais expostos a riscos na internet. E o meio pelo qual esse contato acontece é principalmente através das redes sociais, através de trocas de mensagens instantâneas. Isso reforça a importância da mediação, uso e participação dessas plataformas”, disse Luísa Adib, coordenadora da pesquisa TIC Kids Online Brasil.

Outro dado preocupante destacado pela pesquisa é o uso excessivo da internet. Cerca de 24% de todas as crianças e adolescentes entrevistados neste estudo revelaram que gostariam de passar menos tempo acessando a Internet, mas não conseguem.

Outros 22% disseram que navegaram na internet sem realmente se interessar por nada. O mesmo número de crianças e adolescentes (22%) também afirmou passar muito tempo navegando, o que os impedia de fazer a lição de casa ou de passar mais tempo com a família e amigos.

“São dados importantes porque é uma questão muito presente no debate hoje sobre a qualidade e o tempo de uso da tela por crianças e adolescentes. Trouxemos essa percepção para alimentar esse debate e, a partir dessas evidências, criar diretrizes e regras que melhorem a qualidade, o prazer e os benefícios do uso da internet por crianças e adolescentes”, disse o coordenador da pesquisa, em entrevista à Agência Brasil.

Outro estudo divulgado recentemente pelo Instituto Alana, realizado pelo Datafolha, já apontava uma percepção sobre o uso excessivo da internet entre crianças e adolescentes.

Segundo este estudo, 93% dos entrevistados concordaram que crianças e adolescentes estão se viciando em redes sociais; 92% concordam que é muito difícil para crianças e adolescentes se defenderem da violência e de conteúdos inadequados para sua idade; 87% concordam que exibir anúncios e comerciais para crianças e adolescentes nas redes sociais estimula o consumo excessivo; e 86% concordam que o conteúdo mais acessado atualmente por crianças e adolescentes não é adequado à sua idade.

O trabalho do Instituto Alana também constatou que nove em cada dez brasileiros acreditam que as empresas de mídia social estão fazendo menos do que o suficiente para proteger crianças e adolescentes na internet e que as empresas deveriam tomar uma das seguintes medidas para proteger crianças e adolescentes online na internet: solicitar comprovante de identidade dos usuários; melhorar o atendimento ao cliente e suporte para reclamações; proibir publicidade e vendas a crianças; acabar com a reprodução automática e rolagem infinita de vídeos, como reels ou curtas; ou limitar o tempo de uso dos serviços.

“A população percebe que as empresas fazem menos do que deveriam aqui no Brasil em relação a essas salvaguardas e que é preciso haver mais legislação”, disse Maria Mello, coordenadora do programa Criança e Consumo e líder do Eixo Digital do Instituto Alana . “São questões surpreendentes no sentido positivo e indicam que a sociedade está olhando para isso e pedindo mudanças. Mas também demonstram a percepção de que muito precisa ser feito, principalmente do ponto de vista regulatório”, acrescentou.

Luisa Adib explicou que para evitar excessos e riscos associados ao uso da internet é necessária a mediação. Os pais, por exemplo, podem estabelecer regras como controlar e limitar o tempo de uso da internet e também orientar crianças e adolescentes sobre como utilizá-la de forma responsável e consciente. Luisa alerta que essa não é uma tarefa que cabe apenas aos pais ou responsáveis.

“Temos que ter cuidado para não colocar a responsabilidade apenas nos responsáveis, sejam eles pais, mães ou educadores. Eles são parte fundamental, sabemos da correlação positiva entre mediação e benefício, um uso de qualidade, mas não são os únicos responsáveis. Temos uma série de contextos que também envolvem regulamentações”, destacou.

Segundo Maria Mello, os resultados observados na pesquisa do Instituto Alana acabam dialogando com o estudo TIC Kids porque também demonstraram que a responsabilidade pelo uso da internet por crianças e adolescentes não pode recair apenas sobre os pais ou responsáveis.

“Muitos pais e mães ainda sabem muito pouco sobre como proteger [seus filhos]. E isso não pode estar implicado, não pode estar na conta das famílias. Acho que é papel das empresas e também do Estado proporcionar algum nível de sensibilização e competências para que essa mediação parental possa acontecer”, reforçou.

“É preciso que haja um acordo coletivo compartilhado, como preconiza a nossa Constituição Federal, para que essa presença ocorra de forma protegida. Agora, as famílias podem buscar, primeiro, saber o que acontece nas redes, quais produtos e serviços são desenvolvidos adequadamente para essa presença e quais os termos de uso, que dirão se aquele produto ou serviço é adequado para aquela idade. Vale a pena estar atento a isso e também buscar entender mais sobre o funcionamento algorítmico, que pode moldar comportamentos e fazer com que as crianças acessem conteúdos inadequados do ponto de vista da violência, dos conteúdos de exploração sexual, mas também do ponto de vista da exploração. comercial”, aconselhou Maria Mello.

acesso à Internet

O estudo TIC Kids Online Brasil 2024, realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação do Centro de Informação e Coordenação do Ponto BR, vinculado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, também mostrou que o número de crianças e adolescentes com acesso à Internet manteve-se algo estável, com uma pequena descida em 2024 face ao ano passado.

Segundo o estudo, 93% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de todo o país são usuários de internet no Brasil, um número um pouco inferior ao que mostrou a pesquisa do ano passado (95%). Esse acesso é maior na região Sul, onde quase todas as crianças e adolescentes (98%) declararam ter acesso à rede. A região Norte apresenta o menor percentual de acesso do país, com 85%.

Esta desigualdade também se manifesta entre as classes sociais. Se entre as crianças e adolescentes das classes A e B o acesso é praticamente total (99%), entre as crianças das classes D e E gira em torno de 91%. Na classe C, isso corresponde a 93%.