‘Talvez’: novas técnicas podem fazer mineira desistir da eutanásia

‘Talvez’: novas técnicas podem fazer mineira desistir da eutanásia



Duas novas esperanças podem mudar a ideia da estudante de veterinária Carolina Arruda, 27 anos, de buscar a eutanásia na Suíça. Há 11 anos ela convive com neuralgia do trigêmeo, distúrbio que causa dores incapacitantes, consideradas as piores do mundo.

De alta intensidade, a dor atinge o rosto – no caso de Carolina, dos dois lados – em forma de pontadas ou choques. “É variável, mas algumas pessoas podem tomar 200 choques por dia”, afirma Sérgio Jordy, neurologista do Centro Médico e Sinapse e do Hospital São Luiz (unidade Itaim), da Rede D’Or.

“O choque elétrico da crise é muito forte. Tenho dores constantes durante o dia, dores permanentes, e fica no nível 6, mais ou menos. 10 e fica muito insuportável”, diz Carolina.

Segundo o estudante em entrevista à Folha, uma das possibilidades vem do próprio neurologista, Wellerson Sabat, e de uma equipe da Argentina. Esta é uma nova técnica para tratar a neuralgia do trigêmeo, provavelmente cirúrgica. A consulta com o médico brasileiro será no dia 18 de julho e custará R$ 400. A seleção argentina ainda não anunciou datas, procedimentos e preços.

“Vou tentar dependendo da margem de sucesso. Tudo vai depender do que me apresentarem, porque se for uma terapia que não tem muitas chances de sucesso, não tem muitos estudos, não vou correr riscos e fazer mais tipos de cirurgia Então, tenho que avaliar bem a proposta, o médico ainda tem que me passar a informação”, diz o paciente.

Outras opções

A segunda esperança está na Clínica da Dor da Santa Casa de Alfenas (MG). Neste caso, Carolina, que é de Bambuí, já conhecia o trabalho dos médicos da instituição, mas nunca teve acesso devido ao alto custo. A consulta será realizada na segunda-feira (8), online. O aluno não pagará nada por isso.

“Se funcionar e aliviar a dor, talvez eu reconsidere a eutanásia. Tudo é válido para minimizar a dor. Mesmo que eu tenha decidido optar pela eutanásia, ainda terei que passar por um processo burocrático e demorado”, afirma. .

“Para uma despedida digna: ajude Carolina a alcançar a paz” é o título da vaquinha online que busca arrecadar R$ 150 mil para custear a eutanásia na instituição Dignitas, na Suíça, um dos países onde a prática é permitida por lei, diferentemente do Brasil . Criado no dia 1º de julho, o crowdfunding já contava com mais de R$ 115 mil – cerca de 77% – doados por 2.835 apoiadores até as 19h deste domingo (7).

O caso viralizou nas redes sociais. Com isso, o estudante conseguiu contato com pessoas que importam canabidiol. “Já tenho uma empresa que me fornece canabidiol, por meio de parceria, em troca de divulgação nas minhas redes”, relata.

Além do canabidiol, a mineira toma dez medicamentos por dia, entre antidepressivos, anticonvulsivantes, opioides e relaxantes musculares. As crises já afetaram a sua saúde mental. Carolina já tentou suicídio duas vezes.

Ela passou por quatro cirurgias, consultou 70 médicos e testou mais de 50 medicamentos. Parte do tratamento consiste na aplicação de Botox a cada quatro meses no músculo temporal e masseter (um dos quatro músculos da mastigação). A terapia torna a dor aproximadamente 5% menos intensa, segundo o paciente.

Carolina teve sua primeira crise há 11 anos, quando estava na casa da avó. Ela havia saído de um caso de dengue. Na época, o médico disse ao estudante que o problema poderia ter sido causado pelo vírus causador da doença, porque ele se aloja nos nervos.

Segundo Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, consultado pela reportagem, a dengue pode ter raras manifestações neurológicas diretas -causadas pelo vírus- ou indiretas, mediadas pela imunidade em resposta à infecção .

“É preciso excluir outras causas, mas temos observado algumas manifestações neurológicas, principalmente polirradiculoneurite (síndrome de Guillain-Barré) ou encefalite mas, em tese, sim, pode haver um fator desencadeante dessa dor com dengue”, diz Araújo .

“Para aquelas pessoas que também têm nevralgia do trigémeo, a minha mensagem é para não se desesperarem e não pensarem que a eutanásia é a solução para qualquer doença deste nível. é que as pessoas que sofrem com isso só serão curadas necessariamente através da eutanásia. Existem vários tratamentos possíveis”, afirma Carolina.

O que é neuralgia do trigêmeo?

A neuralgia do trigêmeo é um distúrbio que provoca dores intensas na região da face – podendo atingir a cabeça – por onde passa o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade tátil, térmica e dolorosa da face.

O trigêmeo possui três ramos: oftálmico, maxilar e mandibular. Controla as sensações no rosto.

“O trigêmeo é um nervo que inerva principalmente a face. É um nervo craniano direto. Portanto, as regiões superiores da cabeça são inervadas por nervos que vêm diretamente do tronco cerebral. E a face é inervada pelo trigêmeo. Quando ocorre dano a esse nervo ou, às vezes, até por motivo pouco conhecido, ocorre hiperestimulação, causando o que se chama de neuralgia do trigêmeo”, explica o neurologista Sérgio Jordy.

Hoje existem muitas formas de tratamento, segundo o especialista.

“Hoje existem tratamentos com remédios, cirurgias, com radiocirurgias, que você nem abre e pode, de certa forma, bloquear. , mas nevralgia, muitas vezes melhora”, explica o médico.

A disfunção pode ser causada por malformações em doenças nervosas, como esclerose múltipla e tumores. Qualquer lesão no trigêmeo pode causar neuralgia, como procedimentos odontológicos em que o dentista lesionou o nervo, ou até mesmo abscessos, segundo o neurologista.



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