Sites de apostas chineses pagam “laranjas” para atuar no mercado brasileiro

Sites de apostas chineses pagam “laranjas” para atuar no mercado brasileiro


Uma investigação revela que o esquema inunda a internet com sites que oferecem jogos como o “tigrinho” sem regras claras. (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

Um esquema de exploração de apostas online operado por chineses utiliza o registo de apostas do governo federal para dar ao negócio uma aparência de legalidade. Empresas shell abertas em nomes “laranja” brasileiros divulgam cassinos virtuais irregulares, que operam sem qualquer controle. Entre os aliciados pelas “apostas chinesas” a emprestar documentos em troca de pagamentos estão beneficiários de ajudas sociais, como o Bolsa Família.

Investigação do Estadão revela que o esquema inunda a internet com sites que oferecem jogos como o “tigrinho” sem regras claras sobre o mecanismo de apostas, ensina influenciadores a enganar novos apostadores com falsos ganhos e também movimenta quantias desconhecidas de recursos. através de empresas suspeitas. Procurado, o Ministério da Fazenda informou que as fraudes serão detectadas e que poderá entrar em contato com o Ministério Público e a Polícia Federal.

Para atrair apostadores, os sites exibem registros obtidos junto à Receita Federal e ao Tesouro, antes mesmo de receberem qualquer autorização governamental para funcionamento. Uma das apostas irregulares encontradas na atividade destaca o seguinte texto na capa do site, com erros ortográficos mantidos:

“Está oficialmente entre as casas de apostas esportivas e jogos online licenciadas do país. Seguindo a Lei Federal que autorizou a regulamentação do mercado de jogos online no Brasil, o Grupo CL realizou, por meio do processo número 0223/224, o pedido de regularidade junto ao Governo Federal.”

Pelas regras atuais, os pedidos de licença apresentados até 20 de agosto seriam analisados ​​até 31 de dezembro. E as empresas que se apresentassem até o dia 17 de setembro poderiam continuar operando até que o pedido fosse analisado. Quem fez o pedido depois de 17 de setembro ou ainda não fez o pedido não pode operar.

O Ministério da Fazenda tem cinco meses para analisar os pedidos de novas casas de apostas protocolados em seu Sistema de Gestão de Apostas (Sigap).

1º de janeiro

Até o momento, 101 empresas estão oficialmente autorizadas a operar apostas até 31 de dezembro, período que a legislação trata como “adequação”. As regras para funcionamento de apostas no Brasil entram oficialmente em vigor no dia 1º de janeiro. Para ter aprovação governamental, além da documentação correta, cada aposta deverá pagar R$ 30 milhões pela licença.

Mas, enquanto os pedidos não são verificados e o valor da outorga não é cobrado, as empresas irregulares utilizam CNPJs e números de protocolo para simular o apoio oficial ao funcionamento.

Dos 183 pedidos de cadastro de casas de apostas no Sigap, o Estadão apurou que 33 foram cadastrados por pessoas que emprestaram seus dados em troca de pagamentos ou tiveram seus nomes utilizados irregularmente. Quem admitiu à reportagem ter vendido o nome para estrangeiros disse ter recebido R$ 600 por uma empresa registrada no Ministério da Fazenda.

Outras 20 empresas também apresentam indícios de irregularidades porque aparecem como inscritas na Receita Federal ou estão em nome de beneficiários de programas sociais. Ou seja, é possível que pelo menos 29% das empresas com pedidos abertos no Ministério das Finanças integrem algum esquema de fraude.

O levantamento considerou solicitações protocoladas entre 18 de setembro e 25 de novembro. Existe também um universo de sites de apostas ilegais de operadoras que não solicitaram registo no sistema oficial do Ministério das Finanças.

O esquema passou a ser conhecido no mercado como “apostas chinesas” porque alguns dos operadores deste tipo de site são oriundos daquele país. Mas também existem fraudadores que operam a partir de outros países da Ásia e da Europa Oriental. Eles utilizam modelos de sites semelhantes, com links que misturam letras e números. É possível jogar usando dados de registro falsos ou incompletos.

Nas últimas três semanas, o Estadão identificou os responsáveis ​​pelos registros do governo e alcançou dois estrangeiros que pagaram para que brasileiros abrissem pelo menos 30 empresas para eles que aguardam aprovação do Ministério da Fazenda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.