Senado aprova PEC da Anistia, com perdão estimado em R$ 23 bilhões a partidos políticos

Senado aprova PEC da Anistia, com perdão estimado em R$ 23 bilhões a partidos políticos


Apenas Novo, que tem apenas um senador, Eduardo Girão (CE), votou contra a PEC.

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Apenas Novo, que tem apenas um senador, Eduardo Girão (CE), votou contra a PEC. (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O Senado aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Anistia nesta quinta-feira (15), em votação acelerada. Demorou apenas 24 horas para resolver o processo na Câmara. A PEC, que teve aprovação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na véspera, foi promulgada após sessão solene do Congresso Nacional e não necessita de sanção ou veto presidencial.

A rapidez do processo contraria o que disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), há um mês, quando disse que “não haveria pressa”. A votação ocorre em dois turnos. Na primeira parte, o placar terminou com 51 votos a favor e 15 votos contra; na segunda, foram 54 votos sim e 16 votos não.

Movimentos da sociedade civil ligados à transparência partidária e ao Direito Eleitoral afirmam que a PEC, entre outras coisas, representa um estímulo à inadimplência e possibilita que os partidos paguem dívidas com recursos de “origem não identificada”, que poderia ser um “caixa dois”. .

Este é o quarto indulto concedido aos partidos via Congresso Nacional. A organização Transparência Partidária estima que a anistia seja em torno de R$ 23 bilhões, contando apenas as contas pendentes de julgamento entre 2018 e 2023. O diretor do grupo, Marcelo Issa, disse que o valor pode ser bem maior.

Apenas Novo, que tem apenas um senador, Eduardo Girão (CE), votou contra a PEC.

O presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (União-AP), foi quem mais trabalhou publicamente pela aprovação da PEC. Ele colocou o assunto em pauta, se comprometeu a votar nesta quarta, mesmo que houvesse pedido de revisão (mais tempo para análise) e pediu que a proposta fosse votada com urgência na quarta.

A exigência visava, especialmente, garantir o mínimo de 30% estabelecido para o financiamento de candidaturas de pretos e pardos em 2024. Um trecho foi incluído na redação da PEC para garantir que essa nova regra seja válida para as eleições deste ano.

Isto representa um retrocesso. Em 2020, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que a divisão dos recursos do fundo eleitoral e do tempo gratuito de publicidade eleitoral deve ser proporcional ao número total de candidatos negros que o partido apresentar à disputa eleitoral.

Em 2022, por exemplo, esse número era de 50,27% do total de inscrições; em 2018, os candidatos negros representavam 46,4% do total. A ministra do TSE, Vera Lúcia Santana Araújo, criticou a PEC. Segundo ela, “não há razão” para que existam “mecanismos internos” que possam criar “uma espécie de evasão às leis que o próprio Congresso elabora”.

É muito difícil cumprir esta proporcionalidade. E se colocarmos essa proporcionalidade em cada município seria uma tarefa enorme.

A articulação da bancada negra na Câmara inseriu um trecho na PEC que diz que os partidos que não cumpriram a cota em 2020 e 2022 poderão compensar nas eleições de 2026, 2028, 2030 e 2032.

A Câmara precisou de mais de um ano para aprovar a proposta. A primeira minuta foi considerada “a maior anistia da história”, o que gerou protestos de movimentos da sociedade civil e de outros parlamentares.

Nos bastidores, os líderes da Câmara atribuíram o atraso na votação ao próprio Pacheco. Disseram que só votariam a PEC da Anistia se Pacheco considerasse o texto palatável para prosperar no Senado. A deputada federal Renata Abreu (Podemos-SP) foi a coordenadora do diálogo entre as Casas.

Após dezenas de alterações, a Câmara aprovou a proposta com 344 votos sim, 89 votos não e quatro abstenções no primeiro turno e com 338 votos sim, 83 votos não e quatro abstenções no segundo turno, em julho deste ano.

A PEC contou com o apoio de partidos que vão do PT ao PL. Como mostrou o Estadão, o próprio PT será o principal beneficiário caso a PEC seja aprovada. Até março deste ano, as diretorias partidárias tinham pelo menos R$ 22,2 milhões em dívidas na lista de devedores da União, mantida pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), braço jurídico do Ministério da Fazenda.