Repercute a falência da empresa criada no segundo governo de Lula para ser a única fornecedora do pré-sal

Repercute a falência da empresa criada no segundo governo de Lula para ser a única fornecedora do pré-sal


A Sete Brasil foi declarada falida após um processo de recuperação judicial sem sucesso. (Foto: Reprodução)

Após oito anos e meio de um processo de recuperação judicial sem sucesso, a Sete Brasil foi declarada falida pela Justiça. Em sua sentença, o desembargador Luiz Alberto Carvalho Alves, da 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, entendeu que a empresa “não apresenta mais condições para seu levantamento” e mencionou que um calote praticamente total da dívida calculada hoje em R$ 36 bilhões: 99,9614% dos sinistros não foram pagos.

Sete ainda pode recorrer da decisão para um tribunal superior, mas os enormes prejuízos acumulados e a ineficácia da empresa indicam que este é, de facto, o fim melancólico de um projecto irrealista e megalomaníaco que coroou o igualmente megalomaníaco segundo mandato de Lula da Silva. Espantado com a descoberta do pré-sal, Lula fez da Petrobras o centro de uma política nacional-desenvolvimentista que quase colocou a própria petroleira à beira da falência.

Talvez a melhor síntese dessa época de devaneios – e corrupção – em série seja Sete, criada do zero em 2010 a partir da obsessão do próprio Lula em transformar, num estalar de dedos, o Brasil em uma potência industrial que ditaria os rumos do economia. mundialmente. Navios portentosos e uma enxurrada de combustíveis refinados com tecnologia revolucionária deixariam o país, através de projectos de milhares de milhões de dólares embalados num discurso chauvinista que lembrava a campanha “O petróleo é nosso” da era Vargas.

O governo levou fundos de pensão estatais e bancos públicos e privados a se juntarem à Petrobras, que seria minoritária na empresa para lhe dar status privado. Para começar, de uma só vez, foram encomendados 28 navios-sonda por um valor que correspondia então à metade de todo o orçamento da Petrobras. Depois de anos, com grande custo, apenas quatro foram entregues.

Durante as investigações da Operação Lava Jato – cujas decisões judiciais foram desmanteladas pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal –, declarações dos ex-funcionários da Petrobras João Carlos Ferraz e Pedro Barusco, que integravam a diretoria da Sete Brasil, indicavam que A mesma circulação de propina ocorrida na Petrobras foi replicada na nova empresa. O chamado “petrolão” foi um escândalo que tomou de assalto a Petrobras e a elevou ao patamar de empresa mais endividada do mundo, situação que exigiu uma mudança rigorosa nas regras de governança da empresa.

A corrupção, comprovada nos depoimentos de tantos envolvidos no caso, foi um enorme prejuízo para a empresa, mas o maior prejuízo resultou do modelo defendido por Lula da Silva, de fazer do Estado o motor da economia – modelo em que a Petrobras foi usado como um braço do governo. Não cabe ao Estado brasileiro escolher empresas “campeãs nacionais”, como fez o lulopetismo com o BNDES; não cabe ao Estado impor a uma empresa de economia mista, como a Petrobras, projetos como o Comperj e a Refinaria Abreu e Lima, que juntos consumiram dezenas de bilhões de dólares e se revelaram um fiasco; Não cabe ao Estado ditar a estratégia empresarial de empresas privadas, como a Vale.

O quinto mandato do PT como Presidente da República foi menos voraz na relação com as empresas, não por uma mudança conceitual, mas sim pelo trauma causado, principalmente, pelos horrores da década de 2010. Mesmo assim, o caráter intervencionista do lulopetismo está presente em decisões como o incentivo à indústria naval, a exigência de conteúdo local e a retomada de investimentos da Petrobras que já se mostraram deficientes, como projetos de fertilizantes, ideia fixa de Lula, para a qual a empresa destinará US$ 900 milhões (cerca de R$ 5,4 bilhões), conforme plano estratégico divulgado recentemente.

Quando a Sete Brasil entrou com pedido de recuperação judicial em 2016, sua dívida era estimada em cerca de R$ 19 bilhões. Hoje, é quase o dobro desse valor. A agonia da empresa, criada a partir de um roubo irresponsável, é a prova de que não há mais lugar para delírios chauvinistas que acabam sendo pagos por toda a sociedade. (Estadão Conteúdo)