Quem é o ex-ministro de Bolsonaro que livrou Lula de devolver relógio

Quem é o ex-ministro de Bolsonaro que livrou Lula de devolver relógio


Jorge Oliveira se aproximou de Bolsonaro por causa do pai.

Foto: Presidência da República/Divulgação

Jorge Oliveira se aproximou de Bolsonaro por causa do pai. (Foto: Presidência da República/Divulgação)

Nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2020, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jorge Oliveira foi autor de uma tese que liberou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de devolver um relógio Cartier avaliado em R$ 60 mil naquela quarta-feira ( 7). Ao mesmo tempo, seu entendimento poderá beneficiar Bolsonaro no caso da venda ilegal de joias da Presidência.

No julgamento, Oliveira apresentou voto em que argumentou que o TCU não tem competência para definir quais itens devem ir para a arrecadação da Presidência e quais outros podem ficar sob o poder de ex-presidentes. O ministro disse ainda que o vazio jurídico se deve à falta de legislação que trate do tema.

Nascido em 1974 no Rio, Jorge Antonio de Oliveira Francisco é soldado da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e formado em Direito pelo Instituto de Ensino Superior de Brasília (IESB). Jorge Oliveira se aproximou de Bolsonaro por causa do pai. Morto em 2018, Jorge Oliveira Francisco foi capitão do Exército como o ex-presidente e trabalhou em seu gabinete na Câmara dos Deputados durante duas décadas.

Seguindo os passos do pai, Jorge Oliveira foi para a Câmara em 2005, atuando como assessor jurídico de Bolsonaro, deixando o cargo em 2007. Oito anos depois de deixar o gabinete do ex-presidente, prestou assessoria jurídica ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) , sendo designado para sua equipe entre fevereiro de 2015 e dezembro de 2018.

Seis meses depois de deixar o gabinete de Eduardo, foi escolhido por Bolsonaro para ser ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Exerceu o cargo entre junho de 2019 e dezembro de 2020, quando assumiu o TCU após indicação do ex-presidente.

Na sessão que determinou que Lula não precisa devolver um relógio Cartier que recebeu de presente durante viagem à França em 2005, Oliveira abriu um terceiro aspecto argumentando que o TCU não pode decidir quais itens podem ir para o acervo pessoal de ex- presidentes.

A argumentação do ministro foi seguida por outros quatro juízes, consolidando a maioria no julgamento. Na prática, a decisão faz com que o Tribunal de Contas anule um entendimento de 2016 que determinava que peças de alto valor não eram itens muito pessoais e deveriam ser incorporadas ao patrimônio da União.

Foi esse entendimento que obrigou Bolsonaro a devolver as joias que haviam sido omitidas da Presidência da República. O caso ocorreu em março do ano passado, após uma série de reportagens do Estadão revelar que assessores do ex-presidente tentaram trazer peças preciosas para o país sem declarar ao Fisco.

Dessa forma, a defesa de Bolsonaro pode argumentar que o próprio Tribunal de Contas, que ordenou a devolução das peças no ano passado, mudou de entendimento. O ex-presidente tem a possibilidade de sugerir que não há base legal para definir os itens muito pessoais que podem ser guardados pelos presidentes que passam pelo Palácio do Planalto.

No início do mês passado, Bolsonaro e outras 11 pessoas foram indiciados pela Polícia Federal por participação no esquema de venda ilegal de joias. Desde o fim da investigação, a defesa do ex-presidente tenta associar os presentes de Bolsonaro ao relógio Cartier de Lula.