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A Editorial Sul
| 26 de outubro de 2024
Grande parte da violência foi denunciada por homens gays, embora pessoas trans e travestis tenham sido as principais vítimas das agressões.
Foto: Marcello Camargo/Arquivo/Agência Brasil
O volume de notificações de casos de LGBTQIA+fobia aumentou nos últimos anos no Brasil. Segundo dados do Disque 100, serviço do MDHC (Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania) que documenta violações de direitos humanos, foram registrados 5.741 casos até setembro deste ano. No ano anterior foram feitas 6.070 reclamações, mais 2.122 que em 2022 (3.948).
Grande parte da violência foi denunciada por homens gays, embora pessoas trans e travestis tenham sido as principais vítimas das agressões.
“Estes não são dados novos. Quando olhamos, por exemplo, para a Pesquisa Nacional de Saúde [PNS] A partir de 2019 já tínhamos prevalência de violência contra a população LGBTQIA+, especialmente contra as mulheres”, afirma Ricardo de Mattos Russo, professor do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Para Russo, o aumento no número de denúncias pode ser explicado pela postura mais afirmativa das pessoas LGBTQIA+ e pelo reconhecimento das violações de direitos enfrentadas. “Vivemos um momento político em que há um confronto entre a prática de resistência de alguns grupos, com as suas identidades, contra o que chamamos de sociedade tradicional. Este é um ponto crucial, que incentiva a política de ódio no Brasil.”
Quanto ao perfil dos denunciantes, homens gays e brancos entre 20 e 40 anos são responsáveis pela maioria dos registros de LGBTQIA+fobia. Na avaliação da professora do Departamento de Direito Privado da UFF Carla Appollinário de Castro, o predomínio desse grupo ocorre porque são essas as pessoas entendidas como sujeitos de direitos. “A maioria das vítimas de violência no Brasil, segundo outros relatos, são mulheres trans e travestis, mas, normalmente, essas pessoas não se veem como cidadãs que possam reivindicar seus direitos, porque já estão acostumadas a uma vida de exclusão e opressão”, diz ele.
Números
Segundo o ObservaDH (Observatório Nacional de Direitos Humanos), também do MDHC, 11.120 pessoas LGBTQIA+ foram vítimas de algum tipo de agressão por orientação sexual ou identidade de gênero em 2022. Transexuais e travestis respondem pela maioria dos casos (38,5%) . Os casos de violência física (7.792), psicológica (3.402) e sexual (3.669) lideram as estatísticas.
Agressões como estas são motivadas principalmente por situações de intolerância, discriminação e ignorância, sendo os homens os principais agressores identificados pelos processos judiciais em casos de LGBTQIA+fobia.
“O que diz respeito à vida íntima das pessoas não deveria nos incomodar, mas muitos tomam isso como uma referência constitutiva da pessoa; É daí que vem a discriminação”, afirma a pesquisadora Carla Appollinário de Castro. “Às vezes, identificamos também aspectos religiosos que afetam a vivência e a convivência das pessoas LGBTQIA+, o que acaba agravando o quadro de exclusão social.”
Para a professora, outra informação relevante é que, em muitos casos, as agressões partem de familiares ou pessoas próximas. Segundo o ObservaDH, o agressor é alguém conhecido da vítima, como ex-companheiros ou namorados, em 30% dos casos, enquanto amigos ou conhecidos são responsáveis por 17,7% das situações de violência.
“Assim como as mulheres, as pessoas LGBTQIA+ são vistas como indivíduos que não possuem autonomia. Então, a sociedade pensa que tem o poder da vida e da determinação sobre nós e nossos corpos. Entende-se que não somos autônomos e que essas pessoas podem determinar como pensamos, como nos constituímos como indivíduos e o que fazemos. É daí que vem a violência no ambiente familiar.”
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População LGBTQIA+ relata mais casos de violência no Brasil
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