Passagem mais cara? Saiba como fusão da empresa aérea Azul com a Gol pode pesar no seu bolso

Passagem mais cara? Saiba como fusão da empresa aérea Azul com a Gol pode pesar no seu bolso


Estimativas indicam que a fusão representaria cerca de 60% do mercado de aviação comercial do Brasil

Foto: Divulgação

Estimativas apontam que a fusão representaria cerca de 60% do mercado de aviação comercial brasileiro. (Foto: Divulgação)

No dia 15 de janeiro, gigantes do setor de aviação brasileiro anunciaram um acordo para o início das negociações em torno de uma possível fusão. O memorando de entendimento assinado entre Azul e Gol, duas das três maiores companhias aéreas do país, já movimenta o mercado e lança uma série de dúvidas sobre os possíveis impactos econômicos da eventual união – e até mesmo se os órgãos reguladores irão endossar a parceria.

De acordo com o acordo entre as duas empresas, a fusão depende do resultado do processo de recuperação judicial da Gol nos Estados Unidos, que deve ocorrer até meados de abril. O Conselho de Administração da nova empresa terá três conselheiros do Grupo ABRA – controladora da Gol –, três membros da Azul e outros três independentes. Caso a fusão se concretize, o comando do novo grupo ficará a cargo do atual presidente da Azul, John Rodgerson.

Além da conclusão da recuperação judicial da Gol nos EUA, a fusão precisará ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Estimativas apontam que a empresa resultante da eventual fusão responderia por cerca de 60% do mercado de aviação comercial brasileiro e teria o controle de quase 100 rotas em todo o país, praticamente sem concorrência – o que desperta questionamentos sobre a formação de um duopólio, quando apenas duas empresas detêm quase todo o mercado. Juntas, as duas empresas possuem mais de 300 aeronaves e faturaram R$ 25,3 bilhões entre janeiro e setembro do ano passado.

Segundo especialistas, além da ameaça à livre concorrência no setor aéreo, a possível fusão entre Azul e Gol traz riscos ao consumidor, que pode ter que pagar ainda mais pela passagem aérea.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre janeiro e novembro de 2024, o valor das passagens acumulou alta de 22,5%. Em comparação com 2019, último ano pré-libra, o aumento médio foi de 12,4%. Nesse período, a Azul aumentou os preços em 7,4% e a Gol em 10,7%.

Já no ano passado, houve queda de 5,1% nos preços das passagens aéreas, em relação a 2023 – o valor médio foi de US$ 631. Para 2025, porém, o relatório Annual Air Monitor 2025 da Amex GBT Consulting, projeta alta generalizada em tarifas da indústria em todo o mundo.

“Só vejo pior para o consumidor. Nessa fusão, o poder de demarcação de preços da empresa é absoluto. A capacidade da empresa de impor preços aumenta tremendamente. Para o consumidor, sem dúvida é uma má notícia”, afirma o economista Mauro Rochlin, coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios (FGV) da Fundação Getulio Vargas.

Avaliação semelhante é feita por Cleveland Prates, ex-conselheiro do Cade e ex-secretário adjunto de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda. Segundo ele, “a concorrência vai diminuir e a probabilidade de aumento de preços é enorme”. “Tanto que o mercado está precificando esse processo como aumento de receita, não como redução de custos. Tudo leva a crer que teremos um grande problema”, afirmou.

Com a união entre as duas empresas, a tendência é que o número de voos diminua, já que as rotas atualmente feitas tanto pela Azul quanto pela Gol ficarão concentradas em uma única empresa. É, no fundo e no cabo, da chamada lei da oferta e da procura, um dos princípios fundamentais da economia: se a procura for maior que a oferta, o preço sobe.

“Com a redução do número de voos, como vão tentar fazer uma operação conjunta, a oferta será menor. Com a procura igual ou superior à oferta, a consequência natural é o aumento do preço da passagem”, explica o advogado Antonio Miguel Neto, especialista em direito tributário, arbitragem e direito societário.

Como se não bastassem as tarifas provavelmente insuficientes da nova empresa, existe o risco de a Latam – que hoje tem 39,4% do mercado e seria a única grande concorrente – também cobrar mais pelos passageiros.

Esta semana, o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, disse ter “grande confiança de que não haverá aumento nos preços das passagens”. “Pelo contrário, teremos o fortalecimento da aviação regional e, assim, da economia em muitos voos”, disse o ministro aos jornalistas.