“O que é permitido hoje não será proibido”, diz o presidente da Câmara dos Deputados sobre projeto igualando aborto a homicídio

“O que é permitido hoje não será proibido”, diz o presidente da Câmara dos Deputados sobre projeto igualando aborto a homicídio


Ele disse que o texto não avançará nos casos previstos em lei.

Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Ele disse que o texto não avançará nos casos previstos em lei. (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já decidiu que a relatoria do projeto que equipara o aborto após a 22ª semana ao homicídio ficará a cargo de uma mulher de partido de centro, capaz de produzir um “mais texto equilibrado”.

Segundo Lira, o nome ainda não foi escolhido. Ele disse que o texto não avançará nos casos previstos em lei, como casos de gravidez resultante de estupro, bebês anencéfalos e risco à vida da gestante. Para tanto, o texto original, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), deverá sofrer modificações até a votação de seu mérito.

“Se todo projeto fosse aprovado de acordo com o texto original, não precisaria de relator. O que hoje é permitido por lei não será proibido, não acredito em apoio da Câmara para isso. Nos casos de gravidez resultante de estupro, de bebês anencéfalos e de gravidez de alto risco, não há penalidade. O tema será amplamente debatido na Câmara pelas deputadas. O que estamos tratando neste projeto é a assistolia fetal (procedimento realizado em casos de aborto acima de 22 semanas) para outros casos, não previstos em lei. É preciso ter essa discussão”, afirma.

De acordo com o texto inicial, a vítima de estupro pode enfrentar uma pena maior que a do agressor. O homicídio simples acarreta pena que pode variar de seis a 20 anos de prisão, pena que seria replicada para os abortos previstos no projeto. O crime de estupro, quando a vítima é maior de idade, tem pena máxima de dez anos. Lira afirma que isso não deve ir adiante.

“O projeto original pode mencionar essa penalidade, mas não necessariamente será votado desta forma, ainda vamos debater sobre isso”, completa.

A alteração prevista nas sugestões do deputado afeta os casos em que:

“uma mulher provoca um aborto para si mesma ou permite que outra pessoa o faça”. A pena aumentaria dos atuais um para três anos para seis a 20 anos de prisão.
o aborto é induzido, mas sem o consentimento da mulher. Nestes casos, quem realizar um aborto sem a autorização da gestante terá a pena aumentada, que atualmente varia de um a quatro anos, para seis a 20 anos.

Se o projeto for aprovado pelos parlamentares, o aborto realizado após 22 semanas de gravidez será punido com pena de prisão de seis a 20 anos em todos esses casos e também no caso de gravidez resultante de estupro. A pena é a mesma do homicídio simples.

Segundo o projeto, o juiz poderá mitigar a pena, dependendo das circunstâncias individuais de cada caso, ou poderá até deixar de aplicá-la, caso as consequências da infração afetem o agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.