A fundadora da igreja evangélica Bola de Neve, conhecida como Apóstola Rina, morreu em um acidente de moto no domingo (17/11).
O pastor Rinaldo Luiz de Seixas Pereira, 52 anos, voltava de um culto quando sofreu um acidente em uma rodovia em Campinas, interior de São Paulo.
Segundo a concessionária responsável pela administração da rodovia, Rina foi socorrida, com a clavícula fraturada, e levada ao hospital, mas não sobreviveu.
A igreja Bola de Neve afirmou, em comunicado: “Neste momento de grande tristeza, oramos por sua família, amigos e toda a igreja que foi tão abençoada por seu ministério, deixando um legado que jamais será esquecido”.
A congregação evangélica, fundada em meados da década de 1990, possui unidades em mais de 30 países. Ganhou destaque pela abordagem que foge do tradicional, com linguagem considerada descontraída, postura liberal em relação a roupas, piercings e tatuagens, com foco no público mais jovem.
Os cultos também são conhecidos por serem acompanhados de música, geralmente rock, com dançarinos e luzes coloridas. A igreja conta com uma bateria carnavalesca, a Batucada Abençoada.
Apesar disso, a doutrina Bola de Neve segue princípios típicos de Neopentecostalismocomo a crença no batismo do Espírito Santo, nos dons espirituais e na guerra espiritual.
Há relatos de que a igreja também tem uma visão crítica em relação ao uso de drogas e álcool – assim como muitas igrejas evangélicas -, conduzindo programas e ações sociais para reabilitar os fiéis.
“Nossa missão é plantar o maior número de Igrejas no menor tempo possível, gerando homens e mulheres segundo a imagem e semelhança de Cristo”, afirma a própria igreja em seu site.
Fundação e relação com o surf
O uso de prancha de surf acabou virando marca registrada das igrejas Bola de Neve
Reprodução/instagram
Segundo a própria igreja, a história de Bola de Neve se confunde com a de Rina.
Nascido em família evangélica, ele teria começado a organizar reuniões após passar por problemas de saúde e “ter uma experiência pessoal com Deus”.
Em 1999, a congregação passou a se reunir no auditório de uma loja de surf, emprestada por um empresário, no centro de São Paulo.
Sem púlpito ou mesa para apoiar a Bíblia, a opção foi pela prancha de surf, que acabou se tornando marca registrada das igrejas Bola de Neve.
A congregação cresceu nas décadas seguintes, expandindo suas filiais por todo o Brasil e até no exterior, com sedes na América do Sul, Europa e algumas cidades da África.
A igreja tem forte presença nas redes sociais e tem atraído celebridades convertidas como o surfista Gabriel Medina, a modelo Sasha Meneghel e seu marido, o cantor gospel João Figueiredo.
Durante as eleições presidenciais de 2022 no Brasil, Rina foi uma das pastoras que fez campanha pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL).
Em 2021, em entrevista à Folha de S.Paulo, o religioso defendeu que os templos religiosos permanecessem abertos em meio à pandemia de covid-19, apesar do isolamento recomendado para retardar a propagação do vírus.
Na ocasião, ele criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de autorizar Estados e municípios a proibir a realização de missas e cultos presenciais por meio de decreto. “Numa democracia, deve haver garantias de liberdade religiosa”, disse ele.
Acusações de violência e abuso
Rinaldo Pereira estava afastado de suas funções no Bola de Neve desde junho, após denúncias de agressão à esposa, a pastora e cantora gospel Denise Seixas.
Segundo o portal G1, Denise disse em depoimento à Polícia Civil que sofreu diversos tipos de agressões ao longo de seu relacionamento com o pastor, desde palavrões até violência física.
Após as denúncias, a Justiça concedeu ao pastor medida protetiva contra o marido.
Na época, o apóstolo Rinaldo Seixas negou, por meio de seus assessores, “qualquer prática de violência e confia na investigação imparcial e técnica de todos os fatos por parte da Polícia Civil e do Ministério Público”.
Após o caso, nas redes sociais, a igreja afirmou que seu Conselho Deliberativo e Rina decidiram se afastar para que ele pudesse se dedicar “integralmente ao esclarecimento dos apontamentos apresentados e ao restabelecimento de sua saúde e de sua família”.
Bola de Neve também anunciou a criação de um canal de ouvidoria para apurar “possíveis falhas e desvios de conduta”.
“Estendemos nossa verdade e retratação à família Bola de Neve, que tanto amamos, e a todos que, de alguma forma, ficaram decepcionados com a conduta da liderança e, também, àqueles que um dia foram feridos por qualquer falhas cometidas no Ministério Investimos nossas vidas na cura, restauração e salvação das famílias, nunca na destruição”, disse a igreja no Instagram na época.
Em outro caso, Rodolfo Abrantes, ex-integrante da banda Raimundos, alegou ter sofrido abusos psicológicos de pastores da igreja na sede em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
“Minha esposa e eu fomos chamados de irresponsáveis, minha esposa foi chamada de Jezabel, eu até fui chamado de caloteiro”, disse o cantor nas redes sociais.
A declaração surgiu 13 anos depois de Abrantes ter saído do Bola de Neve, depois de antigos membros da igreja terem denunciado, também nas redes sociais, alegados desvios de fundos por parte de pastores da mesma sede.
Uma nota divulgada na época pelo Bola de Neve na cidade negou essas acusações, afirmando que os pastores não sacaram recursos de um instituto criado separadamente da igreja.
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