“Não existe direita no Brasil, existe Bolsonaro”, diz o deputado federal Eduardo Bolsonaro

“Não existe direita no Brasil, existe Bolsonaro”, diz o deputado federal Eduardo Bolsonaro


O ex-técnico virou alvo da máquina bolsonarista nas redes. (Foto: Reprodução/Instagram)

“Não existe direita no Brasil, existe Bolsonaro. Graças a Deus existe Bolsonaro. Tem gente que tem sede de poder, quer destruir de forma velada para o cara se levantar e ser o líder.” A frase, proferida pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), resume o sentimento do clã em relação a Pablo Marçal (PRTB), influenciador e empresário que bagunçou as eleições municipais na maior cidade do país.

Nos últimos meses, o ex-presidente flertou com a candidatura de Marçal para pressionar o prefeito Ricardo Nunes (MDB) a aceitar um apoiador de Bolsonaro como vice e também para enviar mensagens quando a posição do prefeito o desagradasse. Nos últimos dias, porém, Bolsonaro reverteu o rumo ao perceber a crescente popularidade do influenciador entre seus eleitores.

Aliados passaram a alertar o ex-presidente sobre a possibilidade de Marçal dividir o eleitorado de direita e se tornar rival do bolsonarismo em futuras eleições. Segundo um parlamentar aliado do ex-presidente, a eleição em São Paulo tornou-se, para o clã Bolsonaro, “até uma questão de honra e disputa para o público de direita”.

Outro aliado do ex-presidente acredita que Marçal vê as eleições paulistas como uma espécie de laboratório para testar seu estilo agressivo de campanha. Por isso, avalia que, em caso de derrota para Nunes, Tarcísio e Bolsonaro, Marçal perderia força política e não seria uma ameaça futura.

É nesse cenário que entra em jogo a ofensiva de Bolsonaro contra o influenciador lançada nos últimos dias. Eduardo, o vereador Carlos Bolsonaro (PL), o pastor Silas Malafaia e até influenciadores aliados do ex-presidente, como o jornalista Paulo Figueiredo, começaram a atacar Marçal nas redes sociais. Eduardo compartilhou relatos revelando a infiltração de membros do PCC no PRTB para assediar seu antigo aliado. O próprio Bolsonaro rebateu o candidato do PRTB após ele comentar “vão sentir nossa falta” em postagem no perfil do ex-presidente. Em poucos minutos, Bolsonaro respondeu: “Nós? Um abraço”.

Ofensiva

“Falta caráter ao Marçal. Ele me perseguiu até perto das eleições de 2022. Ele disse que a diferença entre Lula e eu era só um dedo e me chamou de ‘quadrilheiro’. Poucas semanas depois, quando não conseguiu concorrer à presidência, mudou de lado na reta final da campanha. Isso é falta de caráter”, disse Bolsonaro ao colunista Paulo Cappelli, do site Metrópoles.

A artilharia bolsonarista contra Marçal se intensificou quando já haviam terminado as entrevistas de campo da última pesquisa Datafolha. O candidato do PRTB cresceu sete pontos percentuais, chegando a 21% e superando numericamente Nunes, que registrava 19%. Guilherme Boulos (PSOL) tem 23%. Todos os três estão tecnicamente empatados na margem de erro, que é de mais ou menos 3 pontos percentuais.

Marçal cresceu 15 pontos em duas semanas entre os eleitores de Bolsonaro e chegou a 44%, ante 30% de Nunes. Na rodada anterior, publicada no dia 8 de agosto, o influenciador tinha 29% ante 38% do prefeito neste corte.

“Infelizmente as pesquisas desta semana não mostram o reflexo das últimas 36 horas. Os militantes já perceberam que Marçal não representa o ex-presidente. O colapso de Marçal virá na próxima”, declarou Fabio Wajngarten, assessor e advogado de Bolsonaro.

Eleições 2026

A preocupação dos aliados de Bolsonaro não se limita apenas à avaliação de que a ida de Marçal ao segundo turno aumenta as chances de Boulos, candidato apoiado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vencer a eleição. A eleição presidencial de 2026 também conta.

Se a inelegibilidade persistir, Bolsonaro será obrigado a indicar um substituto para disputar a eleição em seu lugar. O temor entre quem está ao seu redor é que a mesma dinâmica criada por Marçal contra Nunes se repita com aquele que é ungido pelo ex-presidente daqui a dois anos. O influenciador se posiciona como único candidato conservador e de direita nas eleições paulistas, enquanto o prefeito seria a “falsa direita”.

O sucesso da estratégia de Marçal nas próximas eleições dependeria do nome escolhido por Bolsonaro para sucedê-lo. Entre os listados estão os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ronaldo Caiado (União Brasil), Ratinho Júnior (PSD) e Romeu Zema (Novo). Da mesma forma, o alerta está ligado à possibilidade do influenciador concorrer ao Senado por São Paulo em 2026 e rivalizar com o deputado Eduardo Bolsonaro. Aliados de Marçal, porém, dizem que ele não tem interesse em concorrer ao cargo.

Uma das frentes utilizadas por Bolsonaro para tentar desacreditar Marçal são as críticas que ele fez ao ex-presidente quando eram candidatos ao Planalto em 2022. O próprio influenciador diz que resolveu o “problema” ao se reunir com Bolsonaro no início de Junho e recebeu de suas mãos a medalha de “imbrocável”, “imortal” e “não comestível”.

Marçal se posiciona como seguidor do ex-presidente, emulando os maneirismos de Bolsonaro como chamar os filhos de “01″, “02” e “03″ e se posicionar como único candidato antissistema. Ele também adere a agendas caras ao bolsonarismo, incluindo o “combate ao comunismo” e as críticas ao regime ditatorial na Venezuela.

Contra-ataque

Apesar disso, o candidato do PRTB partiu para a ofensiva para rebater as críticas feitas pelo ex-presidente e seus aliados. “Somos apenas nós (o povo e Deus) contra tudo e todos. A brincadeira virou pesadelo e não vai ter segundo turno”, declarou Marçal, enfatizando o pronome usado por Bolsonaro para desacreditá-lo, ao comentar o resultado da pesquisa Datafolha.

Antes, ele já havia respondido ao ex-presidente nas redes. “Investi 100 mil reais na sua campanha para presidente, te ajudei com estratégias digitais, fiz você gravar mais de 800 vídeos no Planalto. Entrei na lista de investigação da PF por ajudar você. Se não existe o ‘nós’, seja mais claro”, exigiu o influenciador.

No final das contas, porém, Marçal voltou a acenar com a cabeça ao bolsonarismo. “Pensem como será lindo 2026: presidente Bolsonaro, governador Tarcísio, prefeito Marçal. Eu acredito nisso”, escreveu ele. “Vamos tirar o Nunes e o Boulos do caminho. Aí juntamos todo mundo para tirar o Luís (sic)”, finalizou.