Mudança no segundo tempo: distante do Congresso, Lula se aproxima do Supremo e planeja reorganizar seu governo

Mudança no segundo tempo: distante do Congresso, Lula se aproxima do Supremo e planeja reorganizar seu governo


Lula chega à metade do mandato. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Com maior apoio no Supremo Tribunal Federal (STF) do que no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à metade do terceiro mandato à frente do país com a ideia de reorganizar o governo visando as eleições de 2026. disputa. O plano agora é consolidar os programas já lançados, explorar a proposta de aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda para tentar aumentar a popularidade e, ao mesmo tempo, atenuar as críticas do mercado financeiro devido à situação da economia.

Em sua terceira visita ao Palácio do Planalto, Lula trata da maior presença de forças de centro-direita e direita no Legislativo e herdou de Jair Bolsonaro um arranjo que garante aos parlamentares grande fatia do Orçamento (R$ 50 bilhões em 2024). ) para destinados a obras em seus redutos. Diante do ambiente hostil, o presidente construiu uma proximidade inédita com a liderança do Judiciário, que deu suporte a algumas questões relevantes para o governo, como o controle das emendas parlamentares e a responsabilização das plataformas pelos conteúdos publicados pelos usuários nas redes sociais.

O governo, porém, não teve forças para avançar com a questão. O Projeto de Lei das Redes Sociais ficou paralisado na Câmara. Sem posicionamento do Congresso, em dezembro o Supremo começou a julgar ações sobre a validade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que estabelece que não cabe às plataformas decidir se o conteúdo publicado pelos usuários é legal ou não.

Os ministros do STF negam que haja jogo entre Planalto e governo, mas reconhecem confluência nas agendas. Apesar do entendimento de que a Corte tem ajudado o governo Lula, também há reclamações em setores governamentais sobre o protagonismo excessivo por parte de Dino, especialmente.

Aliados de Lula no Congresso dizem que o presidente fez “opção de governar com o Judiciário” e deixou os parlamentares de lado por erros na construção da base de apoio. A aposta é vista como arriscada porque os parlamentares poderiam entrar em conflito com o Judiciário e colocar o governo no meio da disputa, como aconteceu no início do pacote de ajuste fiscal.

Irritados com a suspensão dos pagamentos das emendas por decisão do Supremo, os deputados ameaçaram não votar as medidas propostas pelo Ministério da Fazenda. O governo teve que publicar uma portaria para superar a situação.

Mais longe

A convivência do presidente com os parlamentares, intensa nos dois primeiros mandatos, tornou-se apenas esporádica no atual governo.

“As dificuldades de relacionamento com o Congresso começaram na montagem do governo. A articulação política ficou muito distante do Legislativo”, diz o deputado Eunício Oliveira (MDB-CE), que foi ministro das Comunicações no primeiro mandato do petista.

Há possibilidade de mudança de cenário com a reforma ministerial que Lula prepara para os primeiros meses deste ano, com o objetivo de abrir caminho para a formação da chapa eleitoral de 2026, independentemente de quem seja o candidato. A possibilidade de o atual presidente não concorrer a um novo mandato ganhou força após a cirurgia apressada realizada no dia 10 de dezembro para drenar um coágulo sanguíneo na cabeça. Ainda antes, o petista, aos 79 anos, já havia deixado em aberto a possibilidade de não concorrer ao Palácio do Planalto pela sétima vez, apesar de a direção petista considerar que não há outro nome.

A grande dúvida em relação à reforma ministerial é se Lula abrirá os cargos no Palácio do Planalto para aliados. Até o momento, apesar de ter optado por um governo com menos ministérios para o PT em comparação aos dois primeiros mandatos e com a participação de mais partidos, o presidente manteve apenas petistas em cargos-chave de gestão.

Um sinal significativo poderá ocorrer com a entrada de um representante do Centrão na articulação política no lugar de Alexandre Padilha (PT). Por enquanto, a única mudança dada como certa é na Comunicação, com a saída de Paulo Pimenta e a possível entrada do marqueteiro Sidônio Palmeira. O martelo, porém, ainda não foi batido.

Património em jogo

A reforma também pode ser usada para resolver conflitos internos. Embora aliados afirmem que Lula sempre incentivou essas rixas, a avaliação é que o petista já não demonstra a mesma disposição para administrá-las e isso pode acabar desgastando a gestão.

Numa analogia, uma pessoa próxima ao presidente diz que ele optou por montar um governo de “sobrinhos” que ficam de olho na sua herança. A mais significativa das disputas até à data é travada entre os ministros das Finanças, Fernando Haddad, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.