Ministro do Supremo Flávio Dino afirma que o orçamento secreto não acabou e cobra Lula e o Congresso

Ministro do Supremo Flávio Dino afirma que o orçamento secreto não acabou e cobra Lula e o Congresso


Após analisar as denúncias das associações, o ministro pediu que Lula e os presidentes da Câmara dos Deputados se manifestassem. (Foto: Gustavo Moreno/SCO/STF)

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta terça-feira (17) que o governo Lula e o Congresso não comprovaram “integralmente” o cumprimento da decisão da Corte que proibiu o orçamento secreto. Como mostrou o Estadão, a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua distribuindo recursos aos parlamentares aliados sem transparência e sem critérios, repetindo o mecanismo que marcou o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Considerando a “manda clara” do Supremo para derrubar o orçamento secreto, Dino marcou uma audiência de conciliação para 1º de agosto para discutir o “cumprimento integral” da decisão do tribunal.

“Não há dúvida de que os Poderes Legislativo e Executivo possuem ampla discricionariedade quanto à destinação dos recursos orçamentários, o que não exclui o dever de cumprimento dos princípios e procedimentos contidos na Constituição Federal – inclusive os postulados da publicidade e da eficiência. Sem eles abrem-se caminhos que conduzem a múltiplas formas de responsabilização, que procuramos impedir com a decisão agora proferida”, disse o ministro.

Dino conduzirá a audiência, que contará com a presença do procurador-geral da República, Paulo Gonet; o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas; o procurador-geral da União, Jorge Messias; e representantes dos chefes de direito da Câmara e do Senado e um advogado do PSOL. O partido é autor da ação que culminou no veto ao orçamento secreto.

Relatórios de processos

Ex-ministro da Justiça no governo Lula, Dino herdou a relatoria do processo ao assumir a presidência da ministra Rosa Weber, que liderou a ação sobre o orçamento secreto no STF. A decisão que Dino assinou ontem surgiu depois de entidades “amigas do Tribunal”, como a Associação Contas Abertas, Transparência Brasil e Transparência Internacional Brasil, apontarem a persistência de mecanismos orçamentais secretos na distribuição de emendas parlamentares.

Após analisar as denúncias das agremiações, o ministro pediu declarações de Lula e dos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Emendas de pizza

Um dos pareceres – o do Ministério do Planeamento e Orçamento – foi citado por Dino no seu despacho. O ministro do STF relembrou a resposta do governo ao afirmar: “Não importa a embalagem nem o rótulo (RP 2, RP 8, ‘emendas pizza’). A mera mudança de nomenclatura não constitucionaliza uma prática classificada como inconstitucional pelo STF”.

Ao Tribunal, o ministério disse que as alterações classificadas como RP 2 nos sistemas do ministério “não apresentam qualquer exigência de necessidade de indicação do beneficiário nem, nem, para o autor da alteração, de indicação da ordem de prioridades”, segundo ao decreto assinado em março de 2023 “Essas dotações não exigem qualquer identificação da origem da alteração”, afirmou o ministério.

Por outro lado, Dino deixou de analisar o argumento de que haveria descumprimento da decisão do orçamento secreto com a adoção das chamadas “emendas do Pix”. Ele entendeu que esse tipo de transferência não foi objeto do julgamento realizado pelo STF em dezembro de 2022.

A emenda do Pix permite a transferência sem que o parlamentar defina como o dinheiro deverá ser utilizado pelo destinatário. Assim, as prefeituras e os governos estaduais são livres para gastar os recursos e não precisam prestar contas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.