Ministério da Saúde é alvo de cobiça do Centrão, em meio a falhas de comunicação

Ministério da Saúde é alvo de cobiça do Centrão, em meio a falhas de comunicação


A ministra Nísia Trindade teve dois anos de trabalho marcados por crises que envolveram explosão de casos de dengue e insuficiência de vacinas.

Foto: Reprodução

A ministra Nísia Trindade teve dois anos de trabalho marcados por crises que envolveram explosão de casos de dengue e insuficiência de vacinas. (Foto: Reprodução)

Líderes partidários e dirigentes do Congresso tentam aproveitar as negociações que envolvem uma reforma ministerial para pressionar pela saída de ministros que entraram em conflito com setores do Legislativo. A pressão visa ampliar o espaço do PP, Republicanos e MDB dentro do governo e envolve até disputas dentro do mesmo partido, o PSD.

Entre os principais auxiliares do presidente Lula estão Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Padilha (Secretário de Relações Institucionais). As trocas não acertam e tanto os interlocutores do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), quanto do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não esperam uma ampla reforma ministerial antes de março.

Ao longo de dois anos marcados por crises com explosão de casos de dengue, insuficiência de vacinas e pressão do Centrão, o Ministério da Saúde desenvolveu uma nova estratégia de comunicação para evitar estresse futuro e preservar a gestão de Nísia Trindade. A mobilização prevê a antecipação de informações à população e a pressão para que estados e municípios sigam as políticas políticas do governo federal.

Integrantes da direção da Saúde apontam que a má gestão dos estados e municípios foi responsável, por exemplo, pela crise envolvendo os estoques de vacinas, enquanto estados e municípios culpam falhas na distribuição desses insumos pela secretaria. Procurado, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) não respondeu. O Ministério da Saúde também não comentou.

Um dos casos emblemáticos citados internamente envolve a prefeitura de São Paulo, que afirmou neste mês estar faltando doses de vacinas contra dengue. O Ministério afirma que foram enviadas mais de 124,2 milhões de doses ao estado, das quais apenas cerca de 33,3 milhões foram aplicadas.

A demanda por doses extras também foi atendida em 100%, segundo o ministério. A avaliação é que críticas como as de São Paulo são “políticas” e envolvem má gestão por parte do estado e do município, responsáveis ​​pela aplicação e distribuição das vacinas. Procurada, a prefeitura não respondeu.

A estratégia aplicada para superar a situação utilizou notas públicas e informativas sobre as doses distribuídas ao estado de São Paulo, a data de distribuição, as novas remessas de vacinas enviadas e a quantidade aplicada, para tirar o problema das mãos do Ministério da Saúde .

Levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) mostra que a procura por melhores serviços de saúde quase dobrou nos últimos dois anos e atualmente lidera o ranking de preocupações dos brasileiros. Em dezembro do ano passado, quando foi feita a pesquisa, 30% dos entrevistados disseram que o governo deveria dar mais atenção à saúde este ano. Em dezembro de 2022, porém, esse patamar era de 17%.

O tema também aparece em primeiro lugar como a área que mais teve problemas em 2024, na opinião de 18% dos entrevistados. Apesar do aumento da cobertura vacinal desde o início da gestão do ministro – com crescimento médio de 17 pontos percentuais em relação a 2022 –, a avaliação do Planalto é que esses temas causaram ruído e acabaram prejudicando a imagem do governo. O ministério não conseguiu explicar à população por que os medicamentos vencidos eram queimados, prática comum na região.

“A ministra Nísia fez muito mais que seu antecessor (Marcelo Queiroga), mas comunicou menos”, disse ao Estadão o cientista político Antônio Lavareda, que preside o Conselho Científico do Ipespe.

A pesquisa foi realizada com 2 mil entrevistados de todas as regiões do país entre os dias 5 e 9 de dezembro. A margem de erro é de mais ou menos 2,2 pontos percentuais. A menos de um mês da retomada dos trabalhos no Congresso, o Centrão tenta ocupar a cadeira de Nísia. A saúde sempre foi considerada pelo grupo como uma espécie de “feudo” do PP, do presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (AL).

A pressão cresceu porque grande parte do dinheiro das emendas parlamentares passa por lá e há muitos cargos para distribuir.