Mesmo sem indicação de Lula, Banco Central vive transição informal de protagonismo de Campos Neto para Galípolo, o mais cotado para o cargo de presidente e que tem assumido falas sobre juros

Mesmo sem indicação de Lula, Banco Central vive transição informal de protagonismo de Campos Neto para Galípolo, o mais cotado para o cargo de presidente e que tem assumido falas sobre juros


Diretor de Política Monetária é o candidato mais popular ao cargo de presidente da autoridade monetária. (Foto: Washington Costa/MF)

Antes mesmo de uma definição oficial de sucessão no Banco Central (BC), a autoridade monetária passa por uma espécie de transição informal de liderança entre o atual presidente, Roberto Campos Neto, e o mais provável a assumir o cargo, o diretor do Política Monetária, Gabriel Galípolo.

Desde a última decisão sobre os juros, no final de julho, todas as principais mensagens sobre os próximos passos da Taxa Selic foram dadas por Galípolo, que era o número 2 de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda antes de ser nomeado para o BC. A reunião do mês passado manteve a taxa básica de juros em 10,50% ao ano.

Na terça-feira (13), em audiência na Câmara dos Deputados, no único momento em que Campos Neto falou sobre o futuro dos juros, ele mencionou as falas do diretor de Política Monetária.

“Sobre a possibilidade de subir os juros, houve inclusive duas declarações de diretores que foram nomeados por este governo dizendo que vamos fazer o que for preciso para a inflação atingir a meta e, se os juros tiverem que subir, vai ser feito”, disse Campos Neto.

Na segunda-feira, Galípolo destacou que a elevação dos juros está “em cima da mesa”, ainda que o BC não tenha dado nenhum tipo de sinalização sobre qual será sua decisão em relação à Selic no próximo Comitê de Política Monetária (Copom), em setembro.

“A ata (do Copom) deixa isso muito claro, e espero ter deixado claro, mas repito que não demos nenhum tipo de orientação para a próxima reunião. A subida está em cima da mesa e queremos ver como isso se vai desenrolar”, disse Galípolo num evento do mercado financeiro, citando a recente turbulência nos mercados globais.

Galípolo também fez o primeiro comentário sobre política monetária após o fim do período de silêncio do Copom na semana passada, mesmo com a participação de Campos Neto em outro evento público no início do mesmo dia.

Na ocasião, Galípolo reforçou a afirmação do colegiado em ata de que a projeção para a inflação está acima da meta de 3,0%. Atualmente, a projeção do BC para o primeiro trimestre de 2026 é de 3,2%. Além disso, afirmou que o cenário é “desconfortável” para a autoridade monetária.

O mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro deste ano. O sucessor deverá ser indicado pelo Presidente da República e aprovado pelo Senado. Mesmo que Lula não tenha batido o martelo no escolhido, o nome de Galípolo é dado como certo seja em Brasília ou na Faria Lima.

Expectativa

O ministro Fernando Haddad afirmou que a decisão sobre o próximo presidente do Banco Central entrou no radar do presidente Lula e que o nome deverá ser anunciado nas próximas semanas. A data dependerá de uma conversa que Lula deverá ter sobre o tema com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O governo quer aprovar o nome em algum esforço conjunto do Congresso antes das eleições municipais de outubro.

O próprio Campos Neto já defendeu algumas vezes que seria positivo que a nomeação do seu substituto ocorresse alguns meses antes do término do seu mandato, para que a passagem do bastão fosse feita de forma organizada. É o que parece estar acontecendo desde o Copom de julho.

A equipa económica tem argumentado com o presidente Lula que é importante nomear o sucessor de Campos Neto o mais rapidamente possível para eliminar a incerteza, especialmente num momento em que o mundo se torna mais imprevisível.

Governo anterior

A avaliação é que parte da alta do dólar está relacionada às dúvidas sobre a composição e desempenho do BC em 2025, desencadeadas pelo desdobramento no Copom de maio. Naquela reunião, os quatro diretores indicados pelo atual governo votaram por uma queda mais forte dos juros, mas foram derrotados pelos cinco membros do colegiado que já integravam o comitê na gestão de Jair Bolsonaro.

Nos bastidores, o Tesouro ainda argumenta que as críticas de Lula a Campos Neto não significam que o governo não defenda a autonomia do BC. O argumento é que o cisma do petista com o atual presidente do município está relacionado à sua proximidade com o bolsonarismo, mas os aliados de Haddad reconhecem que as questões se misturam nas declarações de Lula e que é preciso melhorar a comunicação governamental.