Mercado prevê taxa básica de juros sem alteração no Brasil até o fim deste ano

Mercado prevê taxa básica de juros sem alteração no Brasil até o fim deste ano


Alguns analistas esperavam uma postura mais dura do comitê. (Foto: Antônio Cruz/ABr)

O comunicado da reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa Selic em 10,5%, gerou avaliações diversas no mercado financeiro brasileiro. Embora parte dos agentes tenha avaliado o tom da comunicação como mais austero (hawkish, no jargão do mercado) que o anterior, alguns analistas esperavam uma postura mais dura do comitê, dada a deterioração das expectativas de inflação nos últimos meses e a pressão sobre o taxa de câmbio.

Mesmo assim, o cenário não alterou as expectativas medianas para o nível da Selic para este ano (10,5%) e 2025 (9,5%). A maioria das casas (24 das 41 instituições consultadas, ou 58,5%) vê a taxa de juros inalterada até dezembro deste ano e a retomada da flexibilização monetária em algum momento de 2025. O economista para o Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, avalia que o O BC optou por uma estratégia de “falar menos” no comunicado da última reunião para não se comprometer com movimentações futuras.

Para o próximo ano, a expectativa do BNP é de retomada da flexibilização monetária, com a Selic fechando o ano que vem em 9,50% e nesse patamar dentro do horizonte relevante, no primeiro trimestre de 2026. Laiz diz, porém, que a volta da Selic ciclo de queda deve acontecer mais perto de meados do que no início de 2025.

Já o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, prevê que a Selic deverá permanecer no patamar atual até o final de 2025. Sichel cita que o prognóstico é consistente com um ambiente de atividade doméstica resiliente, expectativas de inflação acima da meta e a avaliação do BC de que a taxa de juros em 10,5% ainda é restritiva.

Para ele, porém, é importante analisar como se desenrolará o ciclo de flexibilização monetária nos Estados Unidos, à medida que se aproxima a retomada do ciclo de queda dos juros americanos.

“Uma coisa é o Fed (Federal Reserve, o Banco Central Americano) cortar as taxas de juros porque quer, outra coisa é cortá-las se for preciso”, diz o economista, citando a possibilidade de desaceleração da economia dos Estados Unidos além das expectativas.

Esse cenário em que os juros americanos precisam cair mais rapidamente do que o previsto atualmente pelo mercado tende, na avaliação de Sichel, a interferir no funcionamento do Banco Central. Ele ressalta que uma economia dos Estados Unidos que desacelere de forma mais acentuada poderá, por um lado, também trazer riscos para a atividade doméstica.

Embora ainda não esteja no cenário base da maioria das casas, um possível aumento dos juros ainda este ano está no radar de alguns analistas.

Enquanto o economista-chefe para o Brasil do Barclays, Roberto Secemski, acredita que há 30% de chance de aumento da taxa básica de juros em 2024, dada a “fraqueza persistente” do preço do real em um ambiente de “permanência” incertezas fiscais.

O UBS BB também vê possibilidade de alta de 30% na Selic, mas já na próxima reunião do Copom, em setembro, como efeito do fator cambial e, principalmente, de um fiscal “abaixo das expectativas do mercado”.