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A Editorial Sul
| 8 de outubro de 2024
A atuação de Marçal indica que há uma nova liderança muito competitiva com Bolsonaro e que utiliza os mesmos métodos. (Foto: Reprodução)
O cientista político Leonardo Avritzer, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Observatório Eleitoral, avalia que o primeiro turno da disputa municipal trouxe um realinhamento no campo político. O PSD ultrapassou o MDB como principal força de centro, consolidando Gilberto Kassab como um dos líderes políticos mais influentes do país.
Embora a direita tenha registado progressos, o crescimento ficou aquém das expectativas. O PT mostrou recuperação, elegendo aliados em capitais estratégicas, mesmo não tendo saído vitorioso como partido. Para Avritzer, o resultado da eleição paulista não foi positivo para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e Pablo Marçal (PRTB) mostrou que há um caminho para desafiar Jair Bolsonaro (PL) em seu próprio campo.
Leia trechos da entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo:
1) Que avaliação você faz sobre o resultado deste primeiro turno? Quais partidos e grupos são fortalecidos?
Ainda temos uma visão parcial, pois muitas das principais cidades do Brasil terão segundo turno. Contudo, já é possível identificar algumas tendências. A principal mudança pode estar no campo central. O MDB, que durante mais de uma década foi o maior partido do Brasil nas eleições municipais, foi destronado pelo PSD. Apesar de ser um partido que ainda não tem características muito definidas, sob a liderança de Gilberto Kassab, o PSD apresenta-se como centrista. Porém, também abriga setores conservadores que vieram dos democratas durante o governo Dilma e buscaram se reposicionar no sistema político brasileiro.
Também temos crescimento pela direita, mas esse aumento foi menor que o esperado. Alguns líderes do PL falaram em conquistar 1.500 prefeituras; Valdemar Costa Neto, mais modestamente, estimou 600. O PL conseguiu um número relevante de prefeituras, mas ainda está longe de ser o principal partido do Brasil na esfera municipal. Por fim, o Partido dos Trabalhadores teve uma recuperação significativa, passando de 181 para 250 prefeituras e voltando a disputar o segundo turno em importantes capitais do Nordeste e do Sul, algo que não acontecia desde 2016.
2) O desempenho do PT melhorou, mas ainda está bem abaixo do PSD e do próprio PL. Por que, mesmo com Lula na presidência, o partido não teve um resultado mais expressivo?
O desempenho do PT não é mau. Se considerarmos que Fortaleza está entre as 10 maiores cidades do país, e que a candidatura de Boulos em São Paulo foi uma parceria com o PSOL — com apoio financeiro, ativismo e apoio do próprio presidente Lula —, o resultado é positivo. Além disso, em locais onde o PT praticamente desapareceu, como o Rio Grande do Sul, o partido reapareceu e disputará o segundo turno em cidades importantes, como Porto Alegre, Santa Maria e Pelotas. Porém, esse resultado ainda está aquém do que o partido teve no passado, quando conquistou mais de 600 prefeituras. Naquela altura, porém, não era um movimento tão claramente de pessoas identificadas com o PT, mas com a ideia de que ser petista ajudava a ganhar eleições, tal como hoje estar no PSD ajuda a ganhar eleições.
3) Há quem diga que Bolsonaro teve mais influência nos municípios do que Lula. O que você acha?
Acredito que o PL teve um desempenho melhor que o PT. No entanto, o PT optou por construir alianças com partidos da sua base, o que o posiciona bem em algumas capitais. Por exemplo, Belém, São Paulo e Rio de Janeiro, com o [Eduardo] Pais. As estratégias eleitorais foram bem diferentes: enquanto o PL, partido menor, focava em conquistar prefeituras próprias, o PT, como partido mais consolidado, investia no fortalecimento da base de apoio do governo. Esta é a principal diferença entre os dois.
4) Aqui em São Paulo vimos os eleitores de Bolsonaro ignorarem sua indicação para prefeito. A maioria, como mostra a pesquisa, acabou optando por Marçal. O que isso revela sobre o futuro do bolsonarismo?
A eleição em São Paulo traz uma série de problemas para Bolsonaro. Existe agora uma nova liderança de direita, ou extrema direita, muito competitiva com ele e que utiliza os mesmos métodos – uma forte presença nas redes sociais e apoio de grupos conservadores e religiosos. São exatamente os mesmos mecanismos que apoiam o bolsonarismo. O futuro de Pablo Marçal ainda é incerto e, eventualmente, ele poderá até se tornar inelegível no curto prazo. No entanto, ele demonstra que há como desafiar Bolsonaro em seu próprio campo, o que certamente preocupa o ex-presidente.
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“Marçal mostrou que tem como desafiar Bolsonaro na sua área”, diz cientista político
08/10/2024
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