Mãe e padrasto são condenados por morte de menina Sophia

FOLHAPRESS – Stephanie de Jesus da Silva, de 26 anos, e Christian Campoçano Leitheim, de 27, foram condenados pela morte de Sophia de Jesus Ocampo, respectivamente sua filha e enteada, ocorrida em 2023. A menina foi vítima de repetidas agressões e, em janeiro do ano passado, ela foi levada morta para uma unidade de saúde de Campo Grande.

A sentença foi proferida nesta quinta-feira (12/05), após dois dias de julgamento, na 2ª Vara do Júri da capital sul-mato-grossense. Leitheim, padrasto de Sophia, foi condenado a uma pena total de 32 anos, sendo 20 por homicídio qualificado por motivação fútil, utilização de meios cruéis e por crime cometido contra menor de 14 anos. Por estupro, a pena era de 12 anos.

Stephanie, mãe da vítima, foi condenada a 20 anos pelo crime de homicídio por omissão, pois tinha conhecimento e foi conivente com as agressões sofridas pela menina. Sophia faleceu em 26 de janeiro de 2023, vítima de traumatismo raquimedular. O exame também mostrou um rasgo cicatrizado no hímen, sinal de violência sexual.

O advogado Alex Viana, que representa a mãe da criança, disse que seu cliente foi vítima de um relacionamento abusivo. O advogado Renato Franco, que defendeu Leitheim, afirma que ele dormia no dia da morte da criança e que não tem ligação com o crime.

Sophia foi levada pela mãe ao posto de saúde já morta. A criança teria morrido quatro horas antes. O caso gerou comoção nacional depois que o pai da menina, Jean Carlos Ocampo, relatou que contatou sete vezes órgãos de segurança e proteção infantil, mas sem sucesso. Após a morte de Sophia, o casal se separou.

No primeiro dia de julgamento, na quarta-feira, em depoimento, Stephanie disse que vivia um ciclo de violência doméstica e foi vítima de violação conjugal, duas semanas depois de dar à luz a filha do casal. Ele disse ainda que sabia dos ataques de Leitheim à criança e ao filho, que na época tinha quatro anos, mas nunca imaginou que fossem mais graves.

A defesa do réu anexou parecer técnico do psicólogo forense Felipe de Martino. O documento afirma que Stephanie apresenta sintomas graves de depressão e ansiedade e apresenta distorções cognitivas típicas da chamada Síndrome de Estocolmo, processo pelo qual a vítima se identifica com o agressor.

Esta manhã, no depoimento prestado no julgamento na 2ª Vara do Crime, Leitheim negou ter estuprado a mulher, mas admitiu as agressões. “Aconteceu, tanto da minha parte quanto da dela, ela me atacou e eu reagi também.”

Julgamento

O réu disse que Stephanie estava distante da filha e nervosa, presenciando episódios em que gritava com a criança e, por vezes, a agredia. Porém, em relação à morte, ele foi vago e disse que “não podia falar sobre o que não viu”, mas negou ser o responsável pelo crime. Ele disse que Sophia teve febre e vomitou um dia antes de morrer e ele a medicou.

Ao chegar do trabalho à noite, a mãe quis levar a criança ao posto de saúde, mas Leitheim foi contra, acreditando que a mulher só queria obter um atestado para faltar no dia seguinte.

Depois, o casal e dois amigos começaram a beber e a usar cocaína, quase até de madrugada. Portanto, segundo o réu, ele dormiu quase todo o dia 26 de janeiro, sendo acordado por Stephanie, que disse que Sophia havia piorado.

Ele chorou ao dizer que se sentia culpado por não deixar a esposa ir à delegacia. “Como eu disse antes, achávamos que ela não estava bem, que ela só estava com um sintoma estomacal, não estávamos desesperados antes. De forma alguma esperávamos que o que aconteceu acontecesse”, disse ele.

No julgamento, a promotora Lívia Carla Guadanhim mostrou prints de conversas do casal e os áudios que destacaram a violência e o sofrimento diário vivido por Sophia. “Dê um tapa na orelha dela e sente ela; se ela se levantar, diga que você vai quebrar o pescoço dela, pronto, ‘resolvido’ [sic] o negócio”, diz ele, como uma suposta solução para a desobediência da menina.

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Em outro áudio, ele orienta como a mãe deve passar o corretivo. “Você dá um tapa nela e vira o rosto dela para o colchão e fica segurando ela, porque aí ela para de chorar. É sério. Parece uma tortura, mas não é, ok? Porque aí ela vê que não vai ter ar suficiente para chorar e ela parar de chorar.”