O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pregou o retorno da Venezuela ao Mercosul, suspenso por violar a cláusula democrática. O país vai às urnas no dia 28, numa eleição marcada pela exclusão de opositores, pela prisão de críticos e pela ausência de observadores da União Europeia.
Sem mencionar o cerco do regime à oposição, Lula disse que espera poder receber em breve a Venezuela de volta ao Mercosul, enquanto comemora a adesão da Bolívia. “A normalização da vida política venezuelana significa estabilidade para toda a América do Sul”, disse ele.
Lula está em Santa Cruz de La Sierra, onde se reuniu com o presidente Luis Arce e manifestou solidariedade ao quartel de La Paz, denunciado como tentativa de golpe de Estado. Ele comparou a situação da Bolívia com a do Brasil.
“Assim como no Brasil, a democracia boliviana prevaleceu após um longo caminho pontuado por golpes e ditaduras. (…) Em 2022, o Brasil completou o bicentenário de sua independência em um dos momentos mais sombrios de sua história. Em vez de comemorarmos, fomos tomados por uma onda de extremismo que culminou no dia 8 de janeiro”, disse Lula.
“O povo boliviano já havia experimentado esse gosto amargo com o golpe de Estado de 2019 e agora se viu afetado pela tentativa de 26 de junho. Às vésperas de comemorar seu bicentenário em 2025, a Bolívia não pode cair novamente nesta armadilha. Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpes”, acrescentou.
O líder boliviano afirma ter sido vítima de uma tentativa de golpe de Estado, mas foi acusado de encenar um autogolpe, o que nega. A tese foi levantada inicialmente pelo general Juan José Zuñiga, apontado como líder da tentativa, e reforçada por Evo Morales, ex-padrinho político de Luis Arce. Diante do impasse, Lula visita a Bolívia pela primeira vez em seu terceiro mandato sem conhecer Morales, seu aliado histórico.
“Em todo o mundo, a desunião das forças democráticas só serviu à extrema direita”, declarou Lula ao lado de Luis Arce num momento em que as divisões ideológicas aumentam a tensão política na região.
Lula chegou a Santa Cruz de La Sierra após a Cúpula do Mercosul, que marcou a adesão da Bolívia ao bloco e expôs a tensão política na região. Mesmo com a ausência de Javier Milei, a Argentina impôs resistência e a falta de consenso atrasou a declaração final, que adotou um tom mais brando em relação ao atentado na Bolívia.
O Mercosul expressou “profunda preocupação e forte condenação” imediatamente após o quartel. Agora, disse apenas que “qualquer tentativa de afetar as instituições democráticas ou afetar a ordem constitucional na Bolívia deve ser condenada”.
Os presidentes da região rapidamente condenaram o cerco do Exército em La Paz, medida que Lula considerou importante para frustrar a tentativa de golpe. Javier Milei, por outro lado, ecoou as acusações de que Luis Arce planejou o autogolpe.
“Veja o que está acontecendo na Bolívia neste momento. Estão dispostos a dar um falso golpe de Estado para ganhar mais alguns pontos nas eleições”, disse Milei na versão brasileira da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), evento de extrema direita onde se reuniu com Jair Bolsonaro .
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