Justiça dá prazo de 30 dias para que mulher trans passe por redesignação sexual pelo SUS em Santa Catarina

Justiça dá prazo de 30 dias para que mulher trans passe por redesignação sexual pelo SUS em Santa Catarina


“Isso me traz alívio pelo seguinte: cabe no meu corpo”, disse Ashley. (Foto: Reprodução)

A Justiça de Santa Catarina deu prazo de 30 dias para o governo do Estado disponibilizar cirurgia de redesignação sexual para uma mulher transexual de Florianópolis por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Ashley Costa, 39 anos, aguarda o procedimento há mais de dois anos.

A decisão é de 27 de junho e foi divulgada pela Defensoria Pública do Estado (DPE). A Secretaria de Estado de Saúde (SES) disse que foi notificada e que cumprirá a decisão. A pasta não detalhou, porém, quando, onde e como será realizado o procedimento.

“Isso me traz alívio pelo seguinte; Combina com meu corpo. Já tenho um corpo feminino porque estou passando por uma transição hormonal, mas tenho sofrido muito, muito”, disse Ashley.
Além do governo de Santa Catarina, a prefeitura de Florianópolis também é ré no processo.

Segundo a DPE, o caso é inédito, pois não há conhecimento de precedentes semelhantes em Santa Catarina. O órgão afirmou que há uma determinação com prazo de 180 dias pela Justiça do Paraná.

Processo

A recente decisão ocorreu depois que Ashley entrou em contato com o Ministério Público, em 2023, e com a DPE, no início do ano, para denunciar a espera pela cirurgia no estado. Como Santa Catarina não possui hospital público de referência para o procedimento, ela foi colocada na fila de espera em Goiás, onde ocupa a 304ª posição na fila.

Segundo o defensor público Tiago Queiroz da Costa, com a ordem do Tribunal é possível que o procedimento cirúrgico seja realizado em clínica privada, caso os arguidos não cumpram o prazo estabelecido.

“Ou seja, após 30 dias, caso a determinação não seja cumprida, é possível fazer pedido de cumprimento de decisão judicial em que são bloqueados recursos públicos existentes em contas bancárias e esse dinheiro é transferido para a conta do fornecedores. pessoas físicas”, explicou Queiroz.

Urgência

Durante o processo foram apresentados laudos médicos e a prescrição expressa da necessidade urgente do procedimento. Segundo a DPE, o morador da Capital sofre de “ideação suicida e risco de automutilação”, além de “retenção urinária psicogênica, também relacionada à disforia genital”.

Segundo o médico José Carlos Martins, cirurgião especialista no assunto, a disforia não é uma doença, mas sim um desconforto que os pacientes sentem ao perceberem que a forma como se veem não é a forma como se apresentam.

“Essa disforia pode ser localizada. Há pacientes que podem apresentar disforia facial, corporal ou disforia genital. Essa paciente precisa de cirurgia dependendo da localização que ela apresenta”, explicou o médico.

Devido aos problemas de saúde, Ashley não consegue trabalhar e diz ter dificuldades para levar uma vida saudável, viajar e até sair de casa. “Estou praticamente preso por causa de uma das comorbidades que tenho, que seria resolvida com cirurgia. A maior sensação que tenho é de me livrar de tudo isso e voltar a ter uma vida normal, porque hoje estou prisioneira em casa”, disse ela. As informações são do G1.