Isenção do Imposto de Renda na faixa salarial de até R$ 5 mil será divulgada em campanha do governo

Isenção do Imposto de Renda na faixa salarial de até R$ 5 mil será divulgada em campanha do governo


A medida foi bem recebida mesmo por quem avalia negativamente a atual gestão federal. (Foto: Freepik)

O Palácio do Planalto prepara uma campanha publicitária para defender a reforma do imposto de renda anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que prevê isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil com tributação mínima de 10% para quem receber mais de R$ 50 mil.

A ideia de divulgação é motivada por pesquisas internas do governo que indicam que a proposta tem alto apoio mesmo entre aqueles que classificam a gestão como justa ou ruim e péssima. Surge também da percepção, inclusive entre aliados, de que o terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um governo “sem marca” e em meio a críticas de petistas de que o governo está comunicando mal suas ações.

Essas mensagens deveriam ter a estratégia de associar mais fortemente as medidas ao governo Lula, na tentativa de conquistar apoiadores da população que recebe entre dois e cinco salários mínimos.

Essa é uma faixa que resiste ao governo petista e é vista como essencial para que o presidente seja reeleito em 2026 sem grandes retrocessos. É justamente nesse segmento da população que as pesquisas encomendadas pelo Planalto detectaram maior aprovação à isenção do Imposto de Renda e à tributação de quem ganha mais.

A ideia é veicular a campanha na TV, no rádio e nas redes sociais assim que for concluída a votação do pacote de corte de gastos no Congresso, ainda em dezembro. O anúncio da isenção do Imposto de Renda foi feito na semana passada em conjunto com o plano de contenção de despesas.

A ação do governo surpreendeu a classe política brasiliense, foi vista com desconfiança pelo mercado e levou à alta do dólar, que pela primeira vez na história rompeu a barreira dos R$ 6.

A avaliação dos analistas é que a medida vai na contramão do ajuste nas contas, pois representa perda de arrecadação. Mas a equipa económica promete que a reforma será neutra do ponto de vista fiscal e propõe compensar as perdas aumentando a tributação sobre os mais ricos.

Linha do tempo

Na sexta-feira (6), após a alta da moeda norte-americana, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a proposta do governo “não está em pauta por enquanto” e que só será levada adiante “se existem condições fiscais” para isso:

“A questão da isenção do Imposto de Renda, embora seja um desejo de todos, não está na ordem do dia por enquanto e só poderá acontecer se, e somente se, tivermos condições fiscais para isso. Se não tivermos isso, isso não acontecerá. Mas esta é uma discussão para o futuro, que dependerá muito da capacidade do Brasil crescer e gerar riqueza, sem aumentar impostos”.

Em meio a resistências à medida, o governo adotou a estratégia de enviar primeiro o pacote de corte de gastos ao Congresso Nacional, na esperança de vê-lo aprovado ainda este ano.

As medidas para conter despesas incluem, entre outras coisas, novas regras para o salário mínimo, abonos salariais e despesas militares. A expectativa da equipe econômica é que as mudanças garantam uma economia de quase R$ 72 bilhões nos próximos dois anos, valor que chegaria a R$ 327 bilhões no período de 2025 a 2030.

Escola abrangente

Na campanha publicitária, o Planalto também deverá incluir peças que enfatizem a defesa da escola de tempo integral. A proposta encontra grande apoio entre eleitores críticos ao governo, como o público evangélico. Portanto, faz parte da estratégia ampliar o grupo de apoiadores da gestão petista.

O governo já vinha detectando essa tendência há meses. Não é por acaso que a proposta de emenda à Constituição (PEC) para corte de gastos, enviada ao Congresso nesta segunda-feira, permite em um de seus artigos até 20% dos recursos da União no Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica). ) são utilizados por estados e municípios para o programa Escola em Tempo Integral.

Segundo o governo, serão criadas 1 milhão de vagas nessa modalidade de escola em 2024. O dispositivo visa acelerar a abertura de novas vagas. E a campanha, por sua vez, tentará reforçar que esta é uma marca do governo Lula.
A percepção no Planalto é que, quando o governo tem mais clareza programática em relação às suas próprias ações, ele consegue angariar apoios além da sua própria base política. E que agendas como o combate aos privilégios e à desigualdade encontrem apoio entre a população.